terça-feira, fevereiro 2

Um testemunho relevante



Foi lançado na noite do passado dia 22, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, a colectânea «A Oposição ao Salazarismo em São Miguel e em outras Ilhas Açorianas (1950-1974 - Com uma evocação de Ernesto Melo Antunes nas "Campanhas" dos Açores», num trabalho editoral da Tinta-da-china e organização do jornalista, e actual administrador da Fundação Luso-Americana, Mário Mesquita.

O orador convidado foi José Medeiros Ferreira, que também participa no livro, e que de forma descomprometida presenteou a assistência com uma exposição sintética mas plena de significado, quer pelas achegas irónicas e humoradas, que o caracterizam, quer pela sua própria vivência pessoal à época. Ficamos todos a saber que os dotes literários dos membros da PIDE eram escassos e limitavam-se, muitas das vezes, ao registo das partidas e chegadas. Esse défice letrado era depois compensado pela força (bruta).

Para além desta cerimónia foi anunciado a realização de um colóquio, a realizar entre Março e Maio deste ano, e no qual será efectuada a homenagem que se impõe ao homem por muitos considerado o ideólogo do MFA e o principal autor do documento «O Movimento das Forças Armadas e a Nação» - Ernesto Melo Antunes, cuja visibilidade e reconhecimento tem sido, por vezes, minorado.

Este livro é, já por si, uma homenagem à figura histórica e ao seu papel na oposição à ditadura em S. Miguel, mas que não se esgota aí. É um objecto documental de um período histórico ainda pouco estudado e que aqui passa a ter um manual, com importantes testemunhos, que, como adianta Mário Mesquita, ajudam a "compreender um pouco o clima social que se vivia na época do salazarismo na ilha". O "autor" faz, na sua introdução, igualmente referência ao facto de «(...) Ernesto Melo Antunes merece ser designado, pelo papel cívico, político e cultural que desempenhou, cidadão honorário dos Açores». Uma sugestão que registo, aprovo e que pode e deve ser acolhida pela Região.

Ficou no ar a percepção (sugestiva!) de que a Declaração de Ponta Delgada (1969) tivesse sido um rascunho para outros documentos de relevo nacional, casos do Programa do MFA e o Documento dos Nove. Os Açores como tubo de ensaio ideológico ao movimento revolucionário de Abril? Um exagero? São questões para o colóquio que avizinha. Um "testemunho relevante" que aguardo com expectativa.


* Publicado na edição de 26/01/10 do AO
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