quinta-feira, julho 2

Neda

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Numa época sem História, infectada pelo entorpecimento do "politicamente correcto", Neda Agha-Soltan simboliza a Voz da Liberdade. Com ironia divina Neda, em "Farsi", é o mesmo que a Voz. Uma voz que se calou abatida a tiro nas ruas de Teerão. A voz de uma imagem replicada mundo fora pelos labirintos da internet que a teocracia Iraniana não domina. Neda profetiza para muitos o fim de um modelo de Estado teocrático com o qual o Ocidente tem contemporizado com o pragmatismo oportunista que tudo relativiza. Não foi o "beato" Obama que sentenciou que não se poderá impor a Democracia a determinadas Nações? O Irão é seguramente um desses exemplos. Um ninho de vespas que os Americanos não querem agitar. Porém, paradoxalmente há quem no próprio ninho queira libertar-se das peias da tirania que os oprime. Querem tão simplesmente ter uma voz e a liberdade para fazer uso dela mesmo que tal ousadia democrática seja uma heresia para os ayatollahs deste mundo. Neda é não só o ícone e a agonia dessa voz, como a sua morte, às mãos da repressão, faz dela uma mártir executada pelos torcionários do seu país. Esta é uma dimensão nova numa forma de governo que tem glorificado o martírio em nome de Alá, tantas vezes invocado em vão para a roda de justificações obscenas que apenas servem para alimentar o eixo do mal em que se torturam as liberdades básicas. Neda é ainda um símbolo perene do poder das mulheres numa sociedade que as menoriza em todas as dimensões quotidianas da vida comunitária. Uma jovem abatida a tiro numa manifestação de rua pró-democracia é hoje o rosto martirizado de um Povo que afinal de contas quer a Democracia. Não o deseja por imposição externa do amigo Americano do momento, mas está disposta a dar vida por uma revolução popular que ponha termo a qualquer forma de governo "em nome de Deus". "Eles mataram Neda mas não a sua Voz", foi um slogan que correu que nem pólvora nas plataformas electrónicas que relataram o prólogo de uma revolução que tarda. É sem dúvida a melhor legenda e homenagem a uma mulher que é hoje a imagem da esperança na Liberdade que redimirá a sua morte.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

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