quinta-feira, julho 16

Controleiros

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Por via do Twitter a ALRAA contribuiu com mais uma picaresca entrada no anedotário político nacional. Com efeito, o pueril incidente dos "bilhetinhos" electrónicos entre deputados digitais deveria ter merecido apenas uma nota de rodapé no diário das sessões. Porém, pela mão do Presidente da ALRAA, o assunto passou a dominar a agenda do parlamento e a cobertura mediática do mesmo. Ficou o Povo a saber que, por iniciativa da Presidência da ALRAA, seria convocada uma conferência de líderes para "arranjar" um manual de boas práticas de convivência na sociedade da informação! Imagino que, a nível nacional, um episódio deste calibre seria inspirador para uma demolidora sátira dos "Contemporâneos". Nós por cá, com absoluta escassez de humor, tomamos a sério esta guerrilha parlamentar do Twitter, e até os mais sensatos cronistas da praça assinam editoriais exigindo o bloqueio ao uso indevido dos "brinquedos" comunicacionais disponíveis na net ! Que diriam se a ALRAA bloqueasse o acesso electrónico pelos senhores deputados a jornais de referência como, por exemplo, o Açoriano Oriental ? Será que reeditaríamos o exemplo ridículo do passado em que se copiavam os jornais em formato de in folio A5, para que os senhores deputados pudessem ler tranquilamente notícias do seu país sem que alguém desse nota de que o faziam no plenário ? Creio que não! Contudo em pleno Sec. XXI ainda subsistem e germinam discípulos de Torquemada que, no lugar de queimarem a liberdade de consciência na inquisitorial fogueira, sugerem a regulação da mesma. Alega-se pois que há uso excessivo e indevido dos computadores durante os debates parlamentares. Contudo, há um administrador da rede da Assembleia que tem como tarefa garantir a segurança da rede e se formos além disso entramos no domínio do Big Brother informático. Sem hipocrisias a Assembleia não pode regredir a um tempo anterior à "sociedade da informação", nem viver numa "bolha" isolada de comunicação digital com o resto do mundo gerindo os seus trabalhos em circuito fechado. No resto recordo que um filósofo já fora de moda, Stuart Mill, ensinava que sobre si o indivíduo é soberano, com o limite do princípio do dano, social ou pessoal, causado aos seus semelhantes. Para mediar esses danos existem os tribunais e as tribunas parlamentares. Usem e abusem desses meios com a maturidade que o Povo exige sem reduzir a casa da democracia Açoriana a uma réplica tumultuosa do parlamentarismo terceiro-mundista. No fim retomamos o princípio, recordando que quem premiu o gatilho deste duelo foi o deputado "independente" Alexandre Pascoal. Não deixa de ser paradoxal que ele próprio, bem como os seus apoiantes, clamem pela mais ampla liberdade de expressão para o episódio em causa quando, noutras circunstâncias, não hesitam em impor moderação à mesma liberdade ! Com efeito, Alexandre Pascoal escrevia no Açoriano Oriental que : "as novas tecnologias acarretam vantagens e desvantagens, é certo. Pressupor que a "solução" para determinados "abusos" reside na sua "delimitação" ou "controle" é algo que refuto liminarmente e com o qual não posso estar de acordo". Subscrevo integralmente esta declaração de princípios e lamento que esta doutrina não seja perfilhada pelo Alexandre Pascoal no blog : Ilhas no qual sempre defendeu a "moderação" (o.s. a censura) dos comentadores de um blog que sempre se quis livre e sem controleiros.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

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