sexta-feira, março 2

Testamento

Decorreu hoje na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, um colóquio sobre Dação e Transplantação de Órgãos. Não estive lá apesar de ser questão com que me debato desde muito novo.
Hoje, dei por mim a pensar novamente no assunto.
Mas, que poderei eu doar se o meu coração já só funciona bem com umas implantadas artérias em aço, os rins mais parecem guizos com tanta pedra a chocalhar, o fígado inchado quase cirrótico, e os pulmões enegrecidos de alcatrão?
Até mesmo o cérebro, que creio qualquer dia passível de transplante, caminha a passos largos para a loucura.
Mesmo assim, deixarei escrito ser este o meu último desejo: Que sejam doados todos os orgãos do meu corpo.
Se nada, então, se aproveitar dêem-me a comer aos vermes que fertilizarão a terra onde, num dia de primavera, uma nova árvore nascerá.

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