quarta-feira, novembro 30

EPITÁFIOS #1



Manuel de Brito (1928-2005)


Nasceu no Rio de Janeiro e quando desembarcou em Lisboa com três anos de idade, na Gare Marítima de Alcântara, achou a cidade triste. Foi paquete, moço de recados e boletineiro antes de começar a trabalhar na Livraria Escolar, à Rua da Escola Politécnica, onde conviveu com as tertúlias literárias e artísticas que aí se reuniam. O gosto pelas artes gráficas levou-o a estabelecer-se por conta própria como Livreiro e Editor. Na década de 60, quando a apagada e vil tristeza ainda dominava o país, Manuel de Brito abre no Campo Grande a Livraria 111, um dos sinais primaveris (que não marcelistas) dos novos tempos que acabariam por chegar a Portugal. Aos poucos, o eixo da cultura lisboeta deslocava-se do Chiado para as Avenidas Novas, entre a Fundação Calouste Gulbenkian e a Cidade Universitária. Nessa cartografia da modernidade possível, a Livraria de Manuel de Brito adquire uma dinâmica de Centro Cultural que leva o seu proprietário a abrir, em 1964, a Galeria 111, por onde passou o que de melhor e mais genuíno tinha a pintura portuguesa da altura.




Salazar a vomitar a Pátria. Paula Rego, óleo sobre tela (1960), Col. F.C.Gulbenkian

Com o tempo e as crescentes exigências da sua actividade como galerista, Manuel de Brito largou a Livraria e dedicou-se a fundo ao coleccionismo e às artes plásticas. Apanhei-o nessa fase de transição, em finais da década de 70, quando todos os dias passava a pé pela sua Livraria/Galeria a caminho da Faculdade de Letras. Grande parte da minha cultura universitária deve-se mais à 111 do que ás aulas propriamente ditas. Foi lá que conheci a Paula Rego e era lá que encontrava todas as edições dos nouveaux historiens ainda não traduzidas para português. Tenho-me na conta de bom pagador, mas hei-de estar sempre em dívida para com ele.

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