Não tenho credenciais de crítica
literária, mas no caso vertente, acreditem, ninguém precisa.
Quando a livraria onde eu, aos 16
anos, comprei O Perfume, de Patrick Süskind
(entre tantos outros bons livros aí adquiridos), apresenta na sua montra, com
honras de destaque e flanqueado por Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner,
esse pedaço de mommy-porn que dá pelo
título de As Cinquenta Sombras de Grey,
lamento, mas abano a cabeça em descrédito da realidade.
O facto é que o dito livro está
no topo de vendas da casa. O que é arrepiante, porque me lança em leituras
perturbantes sobre o que se passará para que os nossos conterrâneos considerem
apelativa a historieta de um bilionário “lindo de morrer”, sádico, que subjuga
uma virgenzinha improvável e a faz passar as passas do Algarve, enquanto a
pobre ingénua sacrifica toda e qualquer autoestima para agarrar aquele misógino
que faz dela brinquedo sexual à revelia de qualquer noção de consensualidade
adulta.
Sem moralismos bacocos mas
mantendo a noção do respeito ao feminino e ao masculino, peço que ao menos
leiam isto antes:
http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/yasmin-alibhai-brown/yasmin-alibhaibrown-on-fifty-shades-of-grey-do-women-really-want-to-be-so-submissive-7902818.html
E, se possível, depois leiam isto
“em vez de”:
http://www.wook.pt/ficha/o-amante/a/id/12940499
2 comentários:
Quantas/os gajas e gajos não abdicam da sua auto-estima para andar de bm, jantar nos melhores restaurantes e conviver com o dito jetie-set??? Quantas pessoas conhece que já venderam alma, cu e outros appendages naturais para terem x ou y?? Poucas, muitas???
Trata-se de uma sátira brilhante ao mercantilismo vigente. O sadismo do bilionário explicita a perversidade da coisa.
Moralismo bacoco, sim senhora. O seu e o da Yasmin do independent.
A literatura não deve ser avaliada pela moralidade. Se assim fosse, o Marquis de Sade jamais teria sido lido. A boa literatura explora todos os aspectos da natureza humana, incluindo o sadismo mercantil da persona principal. A moralidade não tem rigorosamente nada que ver com a boa ou má literatura. Afirmar: eu não gosto de livro x porque ele ou ela é muito mauzinho/mázinha...é simplesmente ridículo...
A literatura não é religião nem está sob o controle da igreja. É uma expressão de liberdade radical. Como tal, pode explorar todos os prostitutos e prostitutas da sociedade contemporânea....
Terias sido uma excelente freira!!
No caso vertente.
Na próxima brainstorm com o meu team de quadrupedes iluminados terei que usar esta magnifica expressão seguida de uma advertência: mas não façam chichi! Pelo menos por enquanto. Vertam criatividade. :)
Enviar um comentário