quarta-feira, agosto 31

...Eu hoje deitei-me assim !


...
Ao volante do Mustang pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
...
Maleável aos meus movimentos subconscientes do volante,
Galga sob mim comigo o automóvel que me emprestaram.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Em quantas coisas que me emprestaram guio como minhas!
Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!
...
À esquerda o casebre — sim, o casebre — à beira da estrada.
À direita o campo aberto, com a lua ao longe.
O automóvel, que parecia há pouco dar-me liberdade,
É agora uma coisa onde estou fechado,
Que só posso conduzir se nele estiver fechado,
Que só domino se me incluir nele, se ele me incluir a mim.
...
À esquerda lá para trás o casebre modesto, mais que modesto.
A vida ali deve ser feliz, só porque não é a minha.
Deixarei sonhos atrás de mim, ou é o automóvel que os deixa?
...
Eu, guiador do automóvel emprestado, ou o automóvel emprestado que eu guio?
...
Na estrada de Sintra ao luar, na tristeza, ante os campos e a noite,
Guiando o Mustang emprestado desconsoladamente,
Perco-me na estrada futura, sumo-me na distância que alcanço,
E, num desejo terrível, súbito, violento, inconcebível,
Acelero...
Mas o meu coração ficou no monte de pedras, de que me desviei ao vê-lo sem vê-lo,
À porta do casebre,
O meu coração vazio,
O meu coração insatisfeito,
O meu coração mais humano do que eu, mais exacto que a vida.
...
Na estrada de Sintra, perto da meia-noite, ao luar, ao volante,
Na estrada de Sintra, que cansaço da própria imaginação,
Na estrada de Sintra, cada vez mais perto de Sintra,
Na estrada de Sintra, cada vez menos perto de mim...
...
11-5-1928
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944

...

(Na estrada insular retornamos inevitavelmente a qualquer ponto do ilhéu, entre a costa Sul e a costa Norte, ou desta regressando fatalmente ao Sul passando por nenhures. O video sublime, e o night drive outonal, são por conta dos Girls com novo disco algures em Outubro)

terça-feira, agosto 30

FOTO DO DIA


Gilbert Garcin - Change the world (2001)

...Eu hoje deitei-me assim !



...
A brisa vaga no prado,
Perfume nem voz não tem;
Quem canta é o ramo agitado,
O aroma é da flor que vem.

A mim, tornem-me essas flores
Que uma a uma vi murchar,
Restituam-me os verdores
Aos ramos que eu vi secar...

E em torrentes de harmonia
Minha alma se exalará,
Esta alma que muda e fria
Nem sabe se existe já.
...
VOZ E AROMA - ALMEIDA GARRETT
(flowers by : Nobuyoshi Araki)

segunda-feira, agosto 29

...crepusculares

...



...
If it takes control of your body and soul
Embrace it
If it makes you cry or leave you wondering why
Don't turn around, face it

But do turn cold
If they promise you gold for the price of silver
If it's chemically made
By people you hate
Pinch your arm (pitch around), see if they still there

Everything you want is what I got to give you
You just have to let yourself come with me now
Everything you want is what I got to give you
There's no time to hesitate, come with me now
Let's go and watch the sun rise

Over london bridge
Over golden gate
Or puddefjordsbroen

Let your heart run along to the rhythm of the song

FOTO DO DIA


Joshua Benoliel - Efeitos do assalto ao jornal A Nação, 1913

...despertares



...
Não ! Não é o Pópulo nem é a Banda.com !!!
É apenas um gig de apresentação, em Venice Beach, do novo "The Adventures of Rain Dance Maggie"...não me apetecia postar nada mas esta vai directa para o brother André...presumindo que ainda seja um Red Chili Pepper

CULTURA LOW COST


J. R. Eyerman - Rear view of young couple snuggling behind the wheel of his convertible as they watch large screen action behind rows of cars at a drive-in movie theater.


Hoje no 9500 CINECLUBE > 21h30

O ATALHO (2011)
Realização: Kelly Reichardt
Título Original: Meek's Cutoff
Género: Western
País: EUA
Duração: 104'

É um filme sobre pessoas que andam e têm conversas inacabadas e continuam a andar. E carregam bíblias, piriquitos, armas, sede e paranóia. Passa-se no Velho Oeste.

domingo, agosto 28

FOTO DO DIA


Nan E. Elliot (1979)

...despertares

...

...
"velvet awake" em dia de ir à missa (que não vou)...aqui fica o sermão, para quem aqui passar, em forma de wishful thinking to bless you all.
(Stone Roses... das poucas bandas de sonoridade de Manchester, e da década de 90, ainda em prazo de adorável validade)


Went to a party
I danced all night
I drank 16 beers
And I started up a fight

But now I am jaded
You're out of luck
I'm rolling down the stairs
Too drunk to fuck

Too drunk to fuck
Too drunk to fuck
Too drunk to fuck
I'm too drunk to drunk
Too drunk to fuck

(...)

sábado, agosto 27

...waterboys


These things you keep
You'd better throw them away
You wanna turn your back
On your soulless days
Once you were tethered
And now you are free
Once you were tethered
Well now you are free
That was the river
This is the sea!

Now if you're feelin' weary
If you've been alone too long
Maybe you've been suffering from
A few too many
Plans that have gone wrong
And you're trying to remember
How fine your life used to be
Running around banging your drum
Like it's 1973
Well that was the river
This is the sea!
Wooo!

Now you say you've got trouble
You say you've got pain
You say've got nothing left to believe in
Nothing to hold on to
Nothing to trust
Nothing but chains
You're scouring your conscience
Raking through your memories
Scouring your conscience
Raking through your memories
But that was the river
This is the sea yeah!

Now i can see you wavering
As you try to decide
You've got a war in your head
And it's tearing you up inside
You're trying to make sense
Of something that you just can't see
Trying to make sense now
And you know you once held the key
But that was the river
And this is the sea!
Yeah yeah yeah yeah yeah yeah yeah!

Now i hear there's a train
It's coming on down the line
It's yours if you hurry
You've got still enough time
And you don't need no ticket
And you don't pay no fee
No you don't need no ticket
You don't pay no fee
Because that was the river
And this is the sea!

Behold the sea!

...



MAN RAY (27-8-1890 | 18-11-1976)

Self-portrait with Meret Oppenheim, c.1933

"Em lugar de pintar pessoas, comecei a fotografá-las, e desisti de pintar retratos ou melhor, se pintava um retrato, não me interessava em ficar parecido. Finalmente conclui que não havia comparação entre as duas coisas, fotografia e pintura. Pinto o que não pode ser fotografado, algo surgido da imaginação, ou um sonho, ou um impulso do subconsciente. Fotografo as coisas que não quero pintar, coisas que já existem."

...despertares

...

...
"What The Water Gave Me" ? I know ! Do you ?
Estreia ? Talvez ! Porque a primeira vez não é sempre na 3
...

...

Por estes dias

Pôr-do-Sol @ Portas do Mar, Ponta Delgada, Agosto'11

quarta-feira, agosto 24

Air Transat Flight 236



10 anos depois.

Pois é:

"World-class destinations have an incredible ability to bounce back from adversity"
Disse Graham E. Cooke, Presidente e Fundador da World Travel Awards

...a cura !

...


...
é já oficial : Orelha Negra em Ponta Delgada. A AnimaCultura com a Câmara Municipal de Ponta Delgada levam um dos melhores projectos do ano de 2010, no próximo dia 10 de Setembro, ao palco das Noites de Verão 2011 no Campo de São Francisco. Absolutamente imperdível.

...Eu hoje deitei-me assim !



René Magritte - Lovers - 1929 - no MOMA
...
"De novo aqui, com os lábios memoráveis, único e semelhante a vós
Atravessei o mar.
Vi um arrabalde infinito onde se cumpre uma insaciada imortalidade de poentes."
...



JORGE LUÍS BORGES - "a minha vida inteira" in Lua Defronte (1925)


...



Uma sugestão soporífera para quem necessita deitar-se...assim!

segunda-feira, agosto 22

...as horas


IWC "A Portuguesa" Modelo ref. 3714

Na linha do tempo sucedem-se, irreversivelmente, os aniversários que se celebram ou se felicitam. Há a "melhor juventude" que faz 30, há quem se aproxime da linha do paralelo dos 40, outros, como eu, que já passaram essa meta, e há também aqueles que já atingiram o meio século com a marca dos 50. É esta a nossa "geração". Mas, a partir de quando é que entramos em "downhill" ? Esse é outro mistério do tempo. Se pudéssemos decifrar o tempo, para além de vermos as horas, de certa forma também saberíamos o que somos. Recordo sempre nestas "horas" a perplexidade de Santo Agostinho, meditando, e interrogando-se : "O que é tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas, se alguém me puser a questão e eu quiser responder, já não sei." Com o timbre do nosso fado Português o Padre António Vieira deixou-nos esta resposta, que se dá de presente ao amigo Alexandre Pascoal, um dos aniversariantes de hoje, : "Nem todos os anos que passam se vivem: uma coisa é contar os anos, outra é vivê-los. Somos o que fazemos. Nos dias em que fazemos, realmente existimos; nos outros, apenas duramos". Que lhe dê bom uso.

Está um calor do caraças!


NA MINHA ALDEIA, CERVEJA A COPO

Realização: Quirino Simões
Argumento: Quirino Simões
Ano: 1969
Género: Curta-Metragem, Comédia
Duração: 17’35

Elenco:
Raul Solnado

sábado, agosto 20

RAZÕES QUE A RAZÃO DESCONHECE


Resumo do romance entre Carlos Eduardo e Maria Eduarda, interpretados por Fábio Assunção e Ana Paula Arósio na minissérie Os Maias (Tv Globo, 2001)

Tema de Amor de John Neschiling (Rio de Janeiro, 1947) maestro brasileiro que para além de extenso currículo como director artístico de várias instituições internacionais - onde se inclui o Teatro Nacional de São Carlos - dedica-se também à composição para teatro e cinema sendo o autor das bandas sonoras dos filmes O Beijo da Mulher Aranha, Pixote - A Lei do Mais Fraco e Lúcio Flávio - o Passageiro da Agonia entre muitos outros.

...Eu hoje deitei-me assim !







"(...) a essência da filosofia indiana : "O mundo é maya, ilusão. Tudo é ilusão, menos o meu próprio eu, o meu atman...Ao viver o homem sente-se tudo, portanto não pode desejar nada porque já tem tudo o que se pode ter, por se sentir tudo, não vai fazer mal ninguém nem a nada, porque ninguém faz dano a si próprio!" (Paul Deussen in Introdução à Filosofia Hindu ed. 1914).
...
Dito de outro modo, sem "pastilhas", cada um tem o seu próprio mundo e nesse encontra a sua verdade. O resto é ilusão na qual vamos surfando na vida a cada onda que por nós passa ou nos submerge.
...



sexta-feira, agosto 19

...

Ana Moura aqui, numa balada singular para um poema de Fernando Pessoa, com Patxi Andión, e hoje na Maré de Agosto

...
e ainda esta :



do indispensável "Para Além da Saudade"...para além da mediania Ana Moura é a voz maior da actual música Portuguesa bem ao lado do magistral Camané. Hoje, Ana Moura, aqui ao lado em Santa Maria, e não sei porquê, numa reminiscência, só me ocorre outro poeta, que não Fernando Pessoa, e noutras variações : "estou bem aonde eu não estou ; porque eu só quero ir ; aonde eu não vou"... mas esse é outro fado

INOUTAZORES


Para comemorar o Dia Mundial da Fotografia deixo aqui a ligação para o projecto Inoutazores.
Rui Caria e António Araújo são os responsáveis por este projecto que com base no Facebook pretende debater e discutir conceitos, partilhar experiências e mostrar tudo sobre as novas abordagens ao universo do vídeo e da fotografia.

...bored !




...
"- Diz lá – perguntou o animado Adveio a Panov – acontece-te alguma vez ficares aborrecido ?
- Que aborrecimento pode haver ? – respondeu Panov a contra-gosto.
- Comigo, às vezes o enfado é tanto que nem sei o que sou capaz de fazer comigo.
- Não me digas !
- Daquela vez, lembras-te ? Derreti o dinheiro todo na bebedeira, só por causa desta chatice. Tomou conta de mim, e pensei : vou emborrachar-me até cair.
- Às vezes ainda se fica pior com os copos.
- Mas também, o que se pode fazer?
- E é porquê, esse teu aborrecimento?
"

in "Hadji-Murat", obra póstuma de Tolstói. Acho que tenho, por ora, a minha dose de russos cuja perigosidade é equivalente à da boa vodka. Este "Hadji-Murat" é um fresco épico. Notável como as leituras prévias : "Sonata de Kreutzer", que devia ser de leitura obrigatória a todos os nubentes e seguramente de maior utilidade do que o curso de cristandade para o matrimónio, e "A morte de Ivan Iliitch", - até agora o meu favorito -, (crónica impressionista aqui) enquanto ensaio sobre o absurdo da existência e da futilidade das simbologias de status social. Amanhã viro a página para outras leituras e para temperar as noites, com moderação, um "Camparinha" agri-doce q.b. Nasdrovia !

DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA


Celebre o dia visitando a exposição Nocturno de Carlos Medeiros patente na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.

quinta-feira, agosto 18

Pico e arredores

O header destes dias foi subtraído daqui.

...to whom it may concern

...

...
"A literatura não torna os leitores nem mais felizes, nem melhores, nem piores. Torna-os mais lúcidos, mais conscientes do que têm e do que lhes falta para atingir os seus sonhos e, por isso, mais insubmissos contra a sua própria condição, mais desconfiados frente aos poderes espirituais e materiais que oferecem receitas definitivas para alcançar a dita, e mais inquietos e fantasistas, menos aptos para serem manipulados e domesticados. É verdade que nos grandes momentos de feitiço para os quais os levam as obras literárias conseguidas, as suas vidas enriquecem-se extraordinariamente e que aquelas lhes proporcionam uma exaltação que é felicidade, gozo supremo. Mas, logo, quando o feitiço se acaba com as páginas do livro, o que a literatura mostra é uma comprovação brutal: que a vida real, a vida que se vive, é infinitamente mais medíocre e pobre que a vida sonhada da literatura"
MÁRIO VARGAS LLOSA

...
(...)há vida para lá do papel e até na simplicidade de um tête-à-tête podemos encontrar "momentos de feitiço" e "exaltação"...raras vezes a vida supera a ficção mas esta, sem vida, é apenas uma mortalha.

quarta-feira, agosto 17

AÇORES PROFUNDOS


A série de fotografias intitulada "Açores Profundos" de Paulo Monteiro recebe mais um prémio. Desta vez 0 2º prémio na categoria People: Culture - Non Pro do International Photography Awards 2011.

A exposição com o título “AÇORES PROFUNDOS” fruto de uma recolha foto/antropológica das festas religiosas nas 9 ilhas dos Açores esteve patente no Teatro Micaelense em Dezembro de 2007 e o livro editado na altura poderá ser adquirido na Livraria Solmar.

terça-feira, agosto 16

...Eu hoje deitei-me assim !

...


...
Um homem pode perder a sua religião sem querer perder a fé. Um homem pode até correr, evadindo-se da sua sombra, mas um homem não pode fugir de quem é. Um homem pode até perder-se de si próprio mas está destinado a reencontrar-se com a sua "herança". Johnny Cash é parte desse meu legado e sem o saber tenho a certeza que o meu Pai ia partilhar esta - God's Gonna Cut You Down - comigo. Fica, nestas e em tantas outras coisas, um legado. Johnny Cash é parte dessa dádiva que alimenta a minha "alma" e na banda sonora da minha vida é um "deus" cuja voz transcendeu a sua existência.

...

"Ah, I’d love to wear a rainbow every day,
And tell the world that everything’s OK,
But I’ll try to carry off a little darkness on my back,
Till things are brighter, I’m the Man In Black "


JOHNNY CASH "MAN IN BLACK"
cujo tour ao site oficial se recomenda.



NOCTURNO

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

Antero de Quental, in "Sonetos"

...

...
Do outro Mundo, ou melhor, do outro lado do Mundo "down under" na Austrália. Aqui e agora no mp3 em summer edition. Enjoy it

sexta-feira, agosto 12

...

...
Na demanda de evasão em busca de uma realidade alternativa...com doses homéricas de Camparis, em versão straight, on the rocks, com água Castello (como eu prefiro) ou em elegantes Negronis (*) com vermute e gin...como se não houvesse amanhã.
...
"Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo.(...)" Paradoxalmente "A vida torna-se assim completamente vazia."
Leon Tolstoi, in "Sonata a Kreutzer"
...
(*) receita no site da campari

..."sing (what else?)"

...Eu hoje deitei-me assim !

...

...
Enjoy the sound and lyrics of 82 new wave

I walked along the avenue.
I never thought I'd meet a girl like you;
Meet a girl like you.
With auburn hair and tawny eyes;
The kind of eyes that hypnotize me through;
Hypnotize me through.

And I ran, I ran so far away.
I just ran, I ran all night and day.
I couldn't get away.

A cloud appears above your head;
A beam of light comes shining down on you,
Shining down on you.
The cloud is moving nearer still.
Aurora borealis comes in view;
Aurora comes in view.

And I ran, I ran so far away.
I just ran, I ran all night and day.
I couldn't get away.

Reached out a hand to touch your face;
You're slowly disappearing from my view;
Appearing from my view.
Reached out a hand to try again;
I'm floating in a beam of light with you;
A beam of light with you.

And I ran, I ran so far away.
I just ran, I ran all night and day.
And I ran, I ran so far away.
I just ran, I couldn't get away.
...

quinta-feira, agosto 11

...Eu hoje deitei-me assim !

...

The Kiss, summer of 1956 - Alfred Wertheimer
...
"mystery kisser" : assim era nomeada a enigmática personagem da "afeição" do King of Rock and Roll que foi durante anos um ícone obscuro por detrás da foto de Wertheimer. O "instantâneo" ficou registado, na memória dos amantes, e na iconografia da pop apenas como : "the kiss". Agora, volvido mais de meio século, a identidade do corpo feminino é revelada numa história romanesca em folhetim da Vanity Fair. Pela lenda, a "southern belle" terá desafiado o Rei : "I’ll bet you can’t kiss me, Elvis."
(...)
Pormenores picarescos à margem, no final, fica a certeza, a preto e branco, de que há momentos que são intemporais cuja marca não se desvanece com o tempo. Os rendilhados da história, pela boca da própria metade feminina da foto, está aqui na edição de Agosto da Vanity Fair.

quarta-feira, agosto 10

...

...
"I don´t need therapy. Its not my fault there's a disaster every time I blink. I want to f***ing move on and leave it behind me"


Peter Krause/Nate Fisher.
(infelizmente séries destas já morreram ! Peter Krause agora passa em "Parenthood" depois de "Dirty, Sexy Money")

E A TI INCOMODA?

INSÓNIA





INSÓNIA
Álvaro de Campos

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê... Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.

Vem, madrugada, chega! Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo


:::
Foto: Insónia, Carlos Medeiros (2007)

terça-feira, agosto 9

...Eu hoje deitei-me assim !

...

...
David Bowie 1986

17,13 km² de AÇORES


"É na Terra e não na Lua" o novo filme-diário na Ilha do Corvo, com a duração de 180 minutos dividido em 14 capítulos, tem estreia mundial a 12 Agosto no Festival de Locarno - Competição oficial (Cineastas do Presente).

Esta é a segunda obra que Gonçalo Tocha filma nos Açores. O seu primeiro filme "Balaou" é o registo de uma viagem de barco entre os Açores e Lisboa e a reflexão sobre a efemeridade das coisas. Balaou foi exibido na BPARPD em 1 de Agosto de 2007.

Sobre o filme que viria a ser este "É na Terra e não na Lua" Gonçalo Tocha dizia em Agosto de 2007 : "Não quero fazer só um filme sobre as pessoas da Ilha do Corvo mas fazer um filme com as pessoas da Ilha do Corvo, conquistar o respeito e confiança, entrar no quotidiano da vida local, perceber a energia e força da ilha”

CULTURA LOW COST


É já amanhã, dia 10 de Agosto, que o projecto O Experimentar Na M’Incomoda será apresentado no Arco8 com início marcado para as 22h30.

Participe, vai ver que custa pouco (5€) e que gostará muito.

CULTURA LOW COST




Partcipe! Vai ver que não custa nada.

segunda-feira, agosto 8

...Eu hoje deitei-me assim !

...

Firenze
...

Firenze
...

Venezia
...
(Jenny Holzer)

PES

CULTURA À SOMBRA


9500 CINECLUBE
CICLO DE CINEMA PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO
Em parceria com o IAC (Instituto Açoriano de Cultura) e com o apoio Periferia Filmes

Segunda-feira, 8 de Agosto às 21H30
SEM COMPANHIA de JOÃO TRABULO (2010)

Julgados e condenados por vários crimes, Ernesto e Gaspar estão detidos numa prisão de alta segurança no norte de Portugal. SEM COMPANHIA é um filme sobre a juventude perdida de Ernesto e Gaspar e a longa caminhada que os espera quando saírem da prisão. João Trabulo trabalha sobre a fronteira entre o documentário e a ficção, partindo da realidade longamente observada no interior da prisão (a rodagem durou 13 meses) para construir a história do filme com a participação activa dos dois protagonistas e de outros presos, encenando por vezes alguns aspectos da suas próprias experiências em tempo de reclusão. As rotinas na prisão, as conversas entre estes homens e as consequências da lenta passagem do tempo sobre eles.

“O desafio foi filmar o incorpóreo e o movimento selvagem destes homens face à sociedade, guiados apenas pela imaginação e pela utopia” (João Trabulo).

domingo, agosto 7

Incongruências

...

...
"Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!"


Cesário Verde - O Sentimento dum Ocidental

Ainda os bairros, ainda os vizinhos, ainda o país em que acredito

Estado líquido


Para matar a sede e satisfazer este e outros desejos o melhor será recorrer ao pote.

sábado, agosto 6

...

...

...
wake up, get your job done,it doesn't rules the world, but your only desire, and all you want, is to rule your own world.

sexta-feira, agosto 5

...Eu hoje deitei-me assim !

...

...
"assim"...ponto.

Miguel

O facebook tem a virtude de relembrar vídeos marcantes. Ontem tive a felicidade de rever esta entrevista feita por Rui Ramos a Miguel Esteves Cardoso, uma das raras figuras em Portugal a conseguir pensar fora da caixa - sem a artilharia de preconceitos e as narrativas refilonas do costume. A certa altura (51,30; 52,56; 53,30; 55,22; 55,45) Miguel diz uma coisa à qual sou muito sensível: "Temos de ser locais e viáveis". Sim, comece-se a mudar o país pela nossa rua, pelo nosso bairro, em vez de estarmos a querer mudar o mundo com as nossas abstractas indignações. Concordo com isso. Concordo muito com isso. Comece-se por tratar do lixo na rua onde se vive, por ajudar quem mais precisa na rua onde se vive, por ser cívico e responsável na rua onde se vive. O resto logo se vê.

quinta-feira, agosto 4

Como é que se diz “Arigatô” em micaelense?



O que é que une os Açores e o Japão? Um novo restaurante em Lisboa chamado Kampai – “celebração” ou “à nossa” em japonês. Mas há mais: o judo, modalidade importante na Região, levada para o arquipélago por um senhor chamado Ohi em 1968; o interesse de um tradutor japonês, Kiwamu Hamaoka, em autores açorianos, como Dias de Melo e de Álamo de Oliveira; a circunstância pitoresca e relativamente pouco conhecida de os micaelenses serem conhecidos, no contexto açoriano, como “japoneses”. Porquê? Por causa disso mesmo: do sotaque.
Centremo-nos no restaurante - que se apresenta como, muito abrangentemente, “inspirado nos Açores”. Mas que de açoriano, como se constatou, só tem algum do peixinho ali servido. Para usar uma metáfora adequada, o espaço não é nem carne nem peixe. Nem acolhedor nem inóspito. É assim uma coisa a lembrar um submarino, com um ecrã de TV demasiado grande a beirar a cozinha.
A narrativa gastronómica foi mais persuasiva do que o espaço. Começou com um bem convincente pargo laminado picante, misturado com feijão verde, cenoura ralada e espinafres. Seguiu com uma simpática tempura de caranguejo de casca mole. E prosseguiu com um sashimi moriwase, escolhido por conter alguns peixes dos Açores: atum selvagem, lula gigante e chicharro picado, com cebolinho, alho francês e toranja japonesa. A lula gigante venceu o improvisado concurso da qualidade - sobretudo por causa de uma consistência mais rija do que é costume encontrar nestes territórios. Nos pratos, também se provou um rolo de Sushi Kampai, composto por salmão, camarão, ovo, alface e ovas de peixe voador, que se revelou ao nível dos restaurantes japoneses médios-bons do país.
As sobremesas, essas, não tiveram nada de vagamente açoriano. O bolo de Castela com gelado de sésamo agradou, sem deslumbrar, e a estranha massa de arroz recheada de creme de morango e nata, vendida pela funcionária como uma “espécie de bomboca” japonesa – precisa de ser revisitada. O serviço, esse, foi bom. Aconselhava e tinha opiniões próprias. O preço, 76 euros, talvez seja um pouco excessivo para o repasto. Não se falou mais das bebidas porque o tempo e o calor aconselharam umas Asahi leves e sem história. Sim, teria sabido bem um fininho de Especial.

Restaurante Kampai, Calçada da Estrela, 35-37, 21 397 1214

Classificação: 72%.


(crónica publicada no suplemento "Tentações" da revista "Sábado")

Ainda a árvore



Um filme não é religioso se trata da questão de Deus. Um filme é religioso se nos lembramos muitas vezes dele quando mais tarde olhamos para as coisas e para as pessoas. A "Árvore de Vida" tem muitas leituras - a minha interessou-me muito relembrar apenas como é que os irmãos relativamente da mesma idade brincam (rebolam, engalfinham-se, zangam-se, provocam-se, riem-se) uns com os outros quando são pequenos, debaixo dos humores generosos da natureza. Lembro-me do filme quando vejo os meus filhos fazer o mesmo.

ANIMANDO +

Under the Weather - Tali (1997)

ANIMANDO!


The Spine - Chris Landreth (2009)

segunda-feira, agosto 1

“Amigos de Conveniência”

...

...
"E que fama pode haver mais vergonhosa que parecer ter em maior conta o dinheiro do que os amigos?" Essa é uma interrogação clássica de um texto de Platão num diálogo com Sócrates, o verdadeiro, não o apócrifo que foi demitido de primeiro-ministro de Portugal. Esse clássico da filosofia grega, por certo actualmente sob estudo de Sócrates, agora sim o "falso", enquanto noviço estudante universitário de filosofia algures por Paris, é uma interpelação também ao futuro da União Europeia e das nossas alianças.

Com efeito, que "amigos" europeus e americanos serão esses que, afinal, prezam mais o vil metal do que a solidariedade europeia e transatlântica? Que "amigos" são esses, como Obama, que em defesa dos seus males invocam a desdita alheia afirmando com soberba que eles, os Americanos, "não são nem a Grécia nem Portugal"? No mesmo texto o verdadeiro Sócrates responderia que as pessoas sensatas hão-de compreender que as coisas se passaram, e são, como efectivamente são !


Como há que identificar um "bode expiatório", para diabolizar e distrair, agora lembraram-se das agências de rating ! Não são novidade e algumas, como a "moody’s", são centenárias!

A análise de rating é basicamente uma probabilidade de risco de insolvência do devedor ou do risco de incumprimento das suas obrigações. Logo, quando se baixa o rating de uma entidade tal significa um sinal de alerta quanto à situação financeira da mesma e uma clara orientação para os respectivos credores. Estes, por esta análise, fazem a sua própria avaliação de risco e a partir de um nível "tóxico" de rating, quando este está tão baixo que vale "lixo", colateralmente sabem que haverá uma quebra de financiamento porque já não há juro que compense o risco e, ao mesmo tempo, a remuneração de juros mais elevada é também incomportável para os devedores. Aí o sinal amarelo tinge-se de tons carregados de um alerta vermelho de bancarrota.

E a credibilidade destas agências? A questão é posta como um paradigma negro como se fosse possível tomar o todo pela parte. Com a falência de um dos maiores bancos americanos, e o descrédito do "subprime", o rating também entrou em crise porque apesar da classificação máxima de rating o banco, no caso o Lehman Brothers, faliu! Mas a taxa de falha de uma das maiores agências de rating, a já diabolizada "moody's", é inferior a 1 %! A conclusão é óbvia: são credíveis mas falíveis. Esse é um dos lados da moeda de risco que representa o capitalismo. Mas aqui, entra ainda o factor adicional de uma conduta perversa e gananciosa. Presume-se agora, com algum fundamento, que as maiores empresas de rating continuaram a conceder ratings máximos mesmo sabendo da crise imobiliária. Aqui já não tratamos de uma opinião técnica mas de uma conduta criminosa pois esse falso diagnóstico tem impacto em toda a economia e, sobretudo, na determinação dos juros exigidos pelos credores para emprestar dinheiro a qualquer entidade, ou sequer a determinação para o emprestar. Mas, nisto do capital não há "amigos" mas apenas credores e devedores e a solidariedade política termina onde se acaba o crédito.


Independentemente do rating, no caso Português, o que todos pressentimos é que o Estado, com anos de Socialismo em particular, gastou acima das suas possibilidades, hipotecou o que tinha, e assumiu compromissos para além da sua dimensão. Não é preciso um rating para se perceber que, mais cedo ou mais tarde, os "homens de fraque" nos vinham bater à porta. Neste cenário resta a esperança de que com seriedade se possa inflectir este rumo. A expectativa sobre o futuro da União é obviamente preocupante pois com estas "amizades" de conveniência o rating político da União Europeia vale muito pouco. Caberá à conformação da Economia, pela sua "mão invisível" ou pela via "reformista", reestruturar não apenas as dívidas mas também as prioridades dos Estados e dos Cidadãos. Como está, de futuro, não teremos sequer "amigos", germânicos ou outros, dispostos a emprestar "dinheiro". Optarão antes pelo opróbrio da má fama da avareza, mas salvando-se da falência por contaminação.
...
João Nuno Almeida e Sousa na edição de 1 de Agosto do Açoriano Oriental

©Erwin Olaf

by the way...



Sacuda a crise dos ossos e redescubra os nossos Açores. Vai ver que vai gostar e a nossa economia agradece.

By the way, copie esta imagem e envie para todos aqueles que conhece, dentro e fora dos Açores. Vai ver que also eles agradecem.

©Lyndon Wade