quinta-feira, agosto 4
Como é que se diz “Arigatô” em micaelense?
O que é que une os Açores e o Japão? Um novo restaurante em Lisboa chamado Kampai – “celebração” ou “à nossa” em japonês. Mas há mais: o judo, modalidade importante na Região, levada para o arquipélago por um senhor chamado Ohi em 1968; o interesse de um tradutor japonês, Kiwamu Hamaoka, em autores açorianos, como Dias de Melo e de Álamo de Oliveira; a circunstância pitoresca e relativamente pouco conhecida de os micaelenses serem conhecidos, no contexto açoriano, como “japoneses”. Porquê? Por causa disso mesmo: do sotaque.
Centremo-nos no restaurante - que se apresenta como, muito abrangentemente, “inspirado nos Açores”. Mas que de açoriano, como se constatou, só tem algum do peixinho ali servido. Para usar uma metáfora adequada, o espaço não é nem carne nem peixe. Nem acolhedor nem inóspito. É assim uma coisa a lembrar um submarino, com um ecrã de TV demasiado grande a beirar a cozinha.
A narrativa gastronómica foi mais persuasiva do que o espaço. Começou com um bem convincente pargo laminado picante, misturado com feijão verde, cenoura ralada e espinafres. Seguiu com uma simpática tempura de caranguejo de casca mole. E prosseguiu com um sashimi moriwase, escolhido por conter alguns peixes dos Açores: atum selvagem, lula gigante e chicharro picado, com cebolinho, alho francês e toranja japonesa. A lula gigante venceu o improvisado concurso da qualidade - sobretudo por causa de uma consistência mais rija do que é costume encontrar nestes territórios. Nos pratos, também se provou um rolo de Sushi Kampai, composto por salmão, camarão, ovo, alface e ovas de peixe voador, que se revelou ao nível dos restaurantes japoneses médios-bons do país.
As sobremesas, essas, não tiveram nada de vagamente açoriano. O bolo de Castela com gelado de sésamo agradou, sem deslumbrar, e a estranha massa de arroz recheada de creme de morango e nata, vendida pela funcionária como uma “espécie de bomboca” japonesa – precisa de ser revisitada. O serviço, esse, foi bom. Aconselhava e tinha opiniões próprias. O preço, 76 euros, talvez seja um pouco excessivo para o repasto. Não se falou mais das bebidas porque o tempo e o calor aconselharam umas Asahi leves e sem história. Sim, teria sabido bem um fininho de Especial.
Restaurante Kampai, Calçada da Estrela, 35-37, 21 397 1214
Classificação: 72%.
(crónica publicada no suplemento "Tentações" da revista "Sábado")
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