quinta-feira, outubro 22

“Tomba-Gigantes”

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Numa saison outonal em que está na moda falar de derrotas não quero deixar de registar um revés pessoal e um concreto desaire eleitoral: o de Carlos César na minha freguesia de Fajã de Baixo! Trata-se de uma perda pessoalíssima com um simbolismo que não se esgota no plano local. Com efeito, o Presidente do Governo Regional dos Açores, e toda a sua entourage, apostou forte na vitória do seu plantel. Carlos César é eleitor residente na Fajã de Baixo, condição que aliás partilha com Berta Cabral. Mas as restantes diferenças são abissais. Fajã de Baixo contudo dava um case study depois das práticas e metodologias que foram usadas pelos Socialistas e que presumo terem sido replicadas noutras freguesias. Há quatro anos atrás Carlos César empenhou o seu prestígio pessoal e institucional concorrendo na lista do PS à Freguesia de Fajã de Baixo. Perdeu as eleições. Passados quatro anos na oposição fez-se substituir na lista pelo homem forte da Casa do Povo da Fajã de Baixo, José Dinis, líder da Confraria da Sopa dos Açores que no seu ritual de entronização nomeou Carlos César como "confrade de honra". Confrades e compadres à parte o certo é que nem assim o PS conseguiu retomar a freguesia e Carlos César perdeu, outra vez, as eleições. Embora local foi indubitavelmente uma estrondosa derrota pessoal numa freguesia na qual se empenhou o PS de Carlos César. Uma das poucas do concelho de Ponta Delgada onde Paulo Casaca, candidato do PS à Câmara Municipal de Ponta Delgada, teve a "graça" de se ver acompanhado de Carlos César e respectiva corte. Foi nesta mesma Freguesia que em vésperas de eleições foi distribuído porta a porta um panfleto de campanha com a fotografia de Carlos César no adro da Igreja de "braço dado" à esquerda com o "histórico" João Carlos Macedo e à direita com o referido "peso pesado" da Casa do Povo local. Nem com esta colagem à imagem e semelhança de Carlos César o "evangelho" e slogan de campanha, "gente que faz", logrou arrebatar tão emblemática freguesia. Justiça seja feita. Tratava-se de facto de gente que fez muito pela Freguesia e que prometeu fazer ainda mais! Fez durante a oposição canalizando meios para uma associação local, denominada "A Partilha", que, com o devido respeito, mais não fez do que partilhar uma unilateral oposição à Junta de Freguesia. Prometeu fazer, para benefício virtual dos seus correligionários, um Centro Interpretativo do Ananás quando até há quem reclame um Museu Vivo da Cultura do Ananás. Fez ainda durante a campanha inúmeras promessas populares que espero o povo saiba reivindicar no seu devido tempo. Por exemplo: no fervor da campanha César levou à freguesia a sua embaixada, "generais" e "ajudantes de campo", e teve até a Secretária Regional do Trabalho e Solidariedade Social a prometer obra futura nos derradeiros "cartuchos" da campanha! Depois de todo este desvelo de Carlos César o mesmo foi julgado nas urnas com uma derrota pessoal e institucional. Perdeu mais uma batalha na qual acompanhou as suas tropas numa das suas raras aparições ao lado de Paulo Casaca. Usou com insucesso de toda a "artilharia" política e institucional mas ainda assim a "blitzkrieg" socialista não passou. Clausewitz escreveu em tempos que "a guerra é a continuação das relações políticas com a mistura de outros meios". Na campanha da Fajã de Baixo misturou-se o Governo e o seu Presidente com as ditas "forças vivas" da Freguesia, mas o facto é que nem a imagem de César serviu para caucionar a ambicionada vitória. Bem sei que ainda estamos longe dos playoffs de 2012 mas neste apuramento de 2009 a Fajã de Baixo é uma derrota poderosa, especialmente quando do nosso lado não lutamos com as mesmas armas nem com o plantel da primeira divisão do Governo da Região. Ainda há "tomba-gigantes" !

João Nuno Almeida e Sousa * nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

(* Presidente da Assembleia de Freguesia de Fajã de Baixo)

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