domingo, novembro 2

lost call

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Estou desconfortavelmente sentado na sala de espera das consultas externas do Hospital. No meu braço esquerdo lateja uma bursite olecraniana que interpreto como sendo um hematoma do cotovelo. De tanto servir de pedestal a ponta lancinante e óssea do cotovelo abriu uma lesão, agora purulenta e cheia de pus, sangue, e demais fluidos que venho extrair na "pequena cirurgia" das consultas externas. Amolecido pelo tédio da espera entretenho-me com o telemóvel em cujo ecrã paira uma fantasmagórica "chamada perdida". Recordo que há avarias do corpo que não se extraem. Recordo que hoje de manhã acordei com a pulsão de te ligar. Afinal já não falávamos há alguns meses! Procurei-te na lista de contactos e de modo reflexo cliquei a ordem de chamada em cima do teu nome. Meu Deus o que eu daria para te ter de volta. Sei agora na frieza do linóleo desta sala asséptica e cruel que já cá não estás. Há avarias do corpo que não se extraem e que nos corroem por dentro até à morte. Hoje és cinzas e eu aqui estou agarrado apenas a uma bolsa de líquido à espera da extracção. Dói. Mas não mata.

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