terça-feira, janeiro 2

Mensagem de Ano Novo



Foto Diário Insular


Sempre achei a famigerada ideia dos Açores ultraperiféricos uma enorme desonestidade intelectual, para não lhe chamar outra coisa. O facto de muitos celebrarem a homologação deste conceito pelo Directório da União Europeia como uma espécie de "conquista de Abril", quase tão preciosa como a da constitucionalização do regime autonómico, causa-me autênticos arrepios pela espinha abaixo. Em suma, a ultraperifericidade tornou-se o rendimento mínimo garantido da sociedade açoriana. Aceitar esta situação, considerá-la organicamente ligada à nossa condição insular, é quase um pedido colectivo de reforma antecipada e meio caminho andado para hipotecarmos o futuro à política assistencialista da União Europeia. Dito por outras palavras, é pôr todos os ovos no mesmo cesto. Admito o valor instrumental da ultraperifericidade enquanto abre-latas dos Fundos Europeus, mas não me venham tentar convencer que estas ilhas, a meio caminho da Europa e da América, por sinal os dois maiores pólos económicos, tecnológicos e culturais do mundo inteiro, são ultraperiféricas, coitadinhas.

Feitos estes considerandos, foi com surpresa e agrado que registei as seguintes palavras do Representante da República para os Açores na sua mensagem de Ano Novo:

"... Mas a ultraperiferia dos Açores é um prejuízo que nos habituámos a ver como uma inevitabilidade, uma condenação ou uma fatalidade.
Nada menos exacto. O Mundo mudou. E se nem sempre mudou para melhor, aproveite-se da mudança o que o novo paradigma tem para nos oferecer, porque a novidade tem sempre oferta nova. O fantasma da mundialização, com os seus medos e os seus assombros ? os seus Adamastores ? veio neste ponto a desmentir a fatalidade da ultraperiferia.Os Açores não são mais o ponto mais ocidental, a cauda da Europa, mas antes o centro do Mundo que agora é global e intercontinental. Por outro lado, a Europa em que nos integramos tem hoje na sua Agenda a definição de uma Política Marítima Europeia que passa necessariamente pelo aproveitamento e valorização dos Açores com a imensidão e a riqueza dos seus mares. A sua zona económica exclusiva é algo de muito valioso que os Açores oferecem à Europa, mas que, por ser sua pertença, a Europa deve devolver aos Açores em medida equitativa e proporcional ao seu contributo. O mar deixou de ser fronteira e distância para voltar a ser caminho de comércio e de esperança. E é aqui que este porta-aviões no Atlântico, entre a Velha Europa e os Novos Mundos, vem a ganhar a centralidade que lhe abre novos horizontes, lhe volta a traçar novos caminhos e lhe potencia novos destinos."

Graças ao agregador de blogs Planeta Açores, dei com as declarações do Dr. José António Mesquita via Azoriano. Bem sei que o Representante da República não descobriu a pólvora e que o seu low profile também ajuda, mas não é todos os dias que se ouvem coisas destas e, correndo o risco de ser pouco rigoroso, parece-me que a comunicação social da Região não lhes deu o merecido destaque. É por estas e outras razões que gosto muito da companhia da blogosfera açoriana, com todos os seus defeitos, odor corporal e posts politicamente previsíveis, como este, por exemplo.

Bom Ano Novo, blogosfera. É dar-lhe vergas em 2007.



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