quarta-feira, outubro 6

Campanhas eleitorais

Ou de como a política é ganhar votos e o resto é para românticos, um texto longo.

Esta campanha é uma das mais violentas a que já assisti. Nota-se em todos os campos, mesmos nos partidos mais pequenos, uma extrema agressividade no discurso e na mensagem políticos. Até a cobertura jornalística da campanha já percorre este rio de raiva que atravessa a campanha. Veja-se os textos de Ana Sá Lopes no Público. Mesmo a Blogoesfera já sofre deste mal, alguns dos comentários que por aí tenho lido são de uma malícia, de um desrespeito, absolutamente fora do normal. Mas o que realmente me preocupa é que o que devia ser verdadeiramente importante não interessa a ninguém. Questões como o desenvolvimento económico da região, a dicotomia progresso versus ambiente, o problema do desgaste governativo e da renovação do executivo, as famosas sociedades de desenvolvimento, estas e outras questões são apenas afloradas de leve ou então como arma de arremesso. É que é inegável o progresso e o desenvolvimento da vida nos Açores nos últimos anos, a todos os níveis, na economia, na educação, na saúde, e por ai fora. Podem contrapor que o progresso é inevitável e que se podia ter feito mais, sem dúvida, mas o que está feito é mérito de quem o fez e todos nós sabemos do quão lentamente se desenvolveram os Açores nos anos do Mota Amarelismo e com que custos. Porem se há coisa de que se pode acusar este governo é o absoluto falhanço nas questões ambientais. Os governos de Carlos César ao não terem sabido resolver de uma vez por todas a questão das lagoas, questão que serviu de trampolim político a muitos membros destes governos, hipotecaram em muito o futuro da ilha de São Miguel e os Açores no seu todo. Não há turismo sem ambiente, não há agricultura sem ambiente, não há bem-estar sem ambiente e o ambiente em que vivemos, por mais lindas e verdes que sejam as nossas ilhas, é mau. Esta questão é aliás uma das que maior desgaste provoca nos governos César. Em dois mandatos existem como no ambiente uma série de áreas que falharam e ao mesmo tempo assistiu-se à formação de um novo clientelismo e circuito de dependências na esfera do poder que lembra outros tempos e que é a todos os níveis lamentável. Mas na minha opinião, e por mais estranho que pareça, é aqui que César podia jogar uma forte cartada com vista à reeleição, a renovação do executivo. O que está em causa é a capacidade que César e Cruz têm de coordenar uma equipa governativa, a capacidade de liderança, e os elementos das diversas listas. Se pusermos lado a lado os apoiantes de cada um dos principais partidos a balança do capital pende, julgo eu, a favor do PS. Só um exemplo, entre Bolieiro e Cordeiro eu escolho o Cordeiro. Já para não falar nos PP?s todos que esta coligação se esforça por esconder mas que a ela estão acoplados. Seria extremamente importante que Carlos César explicitasse antes das eleições todas as mudanças que pretende fazer na orgânica governativa e principalmente apresentar se não todos pelo menos alguns dos nomes para a formação do novo elenco governativo. Quanto às sociedades de desenvolvimento, que é a mais emblemática das propostas de Vítor Cruz, do pouco que já foi explicado transparece uma duvidosa promiscuidade entre publico e privado, com o problema de uma pouco clara partilha de dinheiros e de responsabilidades. O papel de um governo é apoiar e incentivar a iniciativa privada, não é contrair matrimónio com ela. Mas como eu disse no início ninguém fala destas questões. Mesmo um outro problema que é o da descoordenação entre a estratégia política dos partidos a nível regional e nacional, não parece fazer mossa. É impressionante que no mesmo fim-de-semana em que o Prof. Marcelo faz campanha nos Açores o Governo da Coligação saia a terreiro zurzindo forte e feio contra o Professor, ou numa altura em que se tenta fazer passar a mensagem do valor da coligação na região, no continente ela quase que implode todos os dias. Porem nada disto parece afectar o desenrolar das campanhas e do amealhar de votos. De facto as campanhas eleitorais são cada vez mais caravanas de amealhar de votos, arraial, festa, t-shirt e avental, o beijo na velhinha e no bebé, e gasto de dinheiro. O resto, a política, isso é para os românticos, como eu.

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