sábado, julho 16

Vive la France ? Non !

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Para os rejubilantes tricolores que celebram o 14 de Juillet, Dia Nacional da França, como marco histórico que precedeu a grande "Revolução", não levanto a minha bandeira por essa patranha, nem me junto a essa festa, a não ser com um fumo preto no braço direito pois a verdade tem outro lado bem mais negro.Muito menos incenso o logro histórico da liberté, égalité, fraternité ou la mort que se seguiu. Os "revolucionários" deixaram cair "a morte" do timbre das palavras de ordem iniciais, mas usaram e abusaram dela no terror da acção.

Contudo, antes disso, com a força de um mito glorificado pelo jacobinismo dominante, o 14 de Julho foi erigido a Dia Nacional da França em memória daquele dia do ano de 1789 em que, no meio da anarquia espontânea que reinava em Paris, um gang de saqueadores tomou a Bastilha. Pela história que nos deram a tomar engolimos a pastilha de que a Bastilha era a masmorra do absolutismo onde vegetavam, por tempo indeterminado, presos políticos heroicamente libertados pelos "che guevaras" de então !

Ora o saque da Bastilha, uma fortaleza militar, foi um banal acto de pilhagem, como centenas de outros, e ninguém se lembrou dos presos como prioridade. Não houve bravos e nobres revolucionários libertadores, penetrando no cárcere do regime à luz bruxuleante de archotes, como tochas que anunciavam amanhãs de liberdade. Apenas o festim corsário do furto e do vandalismo de salteadores avulsos.

Mas, também como sucedeu na queda da nossa Monarquia, episódios de rebelião, que são obra de uma minoria de "revolucionários", logo se transformam em victoriosos "movimentos de massas", porque a maioria do povo se afastou do lugar da turba, ou porque a maioria dos "cidadãos" se resguardou à espera da hora para se juntar ao lado daqueles que no final ganham a contenda. E assim se passa de salteador a imortal deus da revolução ! Explica-se jocosamente assim num trecho de uma comédia de Victorien Sardou : "Mas então em que se distingue um motim duma revolução ? Motim, diz-se quando o povo é vencido e, neste caso, é tudo canalha ; revolução, quando o povo vence, e, então são todos heróis."

Na Bastilha afinal eram apenas sete as vítimas do poder arbitrário do rei ! A saber : quatro falsários : Bechade, Laroche, La Corrège e Pujade, todos compinchas numas letras de câmbio apócrifas ; o Conde de Solages um discípulo do Marquis de Sade, metido no cárcere a pedido da família ; e dois loucos, Tavernier e de Whyte que não tardaram a ser detidos para internamento pouco depois da sua libertação. Mas todos eles foram exibidos como mártires e glorificados na rua pela populaça que foi saindo das sombras. Eis a patética opereta que resultou em exultação patriótica com direito a Dia Nacional.

Depois foi a Revolução e o Bonapartismo que ainda hoje seduz tanta família política à la gauche e dada ao mais descarado nepotismo. Mas, de tantas e humanitárias contribuições francófonas para os Direitos Humanos saídas da Revolução -(incluindo mais tarde a ocupação da nossa Pátria, mas isso já ninguém se lembra) – é no entanto justo não esquecer a benemérita invenção do Dr. Guillotin.
Com efeito, desde os alvores da Revolução Francesa a reforma das "penas" tinha sido prioritária e por Decreto da Assembleia de 25 de Setembro de 1791, em forma de lei, se fixou, e cito, que "todo o condenado terá a cabeça cortada". O estreante, um criminoso de delito comum, sem quaisquer ideais contra-revolucionários, foi Nicolas Jacques Pelletier. A execução foi pública e célere. Mas, os espectadores dessa nobre ralé francesa cedo recolheram às tabernas, dissolvendo numa zurrapa local a frustração pela rapidez do novo espectáculo. Lamuriavam: "mais valia serem rodados" ; e no dia seguinte já faziam manif’s -(outra moda francesa!)- por Paris bramindo a turba : "Restituí-me a minha forca de madeira.".

Neste dia da mistificação da "pastilha" da tomada da Bastilha, e outras mitomanias nas quais os Franceses são mestres, recordo que a guilhotina, essa obra de execução das penas à luz de uma engenharia social dita "humanista", foi estreada em 1792.

Curiosamente, a estreia da guilhotina foi num dia 25 de Abril.

Vive la France ? Non ! Apesar de tudo prefiro "os nossos" 25 de Abril.
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