terça-feira, fevereiro 1

Uma derrota real !

...
Com esforçado malabarismo os socialistas de lá, de cá, e também os de ocasião, mais os seus avençados e comendadores do costume, querem fazer das Presidenciais uma vitória moral de Manuel Alegre e do seu paladino insular: Carlos César.

A verdade é que nestas eleições o eleitorado conferiu a Cavaco Silva um expressivo mandato para uma "magistratura actuante". A verdade é que, também por cá, essa foi a vontade absoluta da maioria dos Açorianos que até elegeram Cavaco Silva com uma percentagem acima da média nacional. A esfíngica figura presidencial não esqueceu tal facto e com gratidão sublinhou: "Ganhei em todos os distritos de Portugal, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira".Curiosa declaração de vitória para aquele que os socialistas diziam ser o arqui-inimigo das regiões autónomas!

Mas mais do que a vitória de Cavaco o que ninguém pode esquecer é a clamorosa derrota de Sócrates e de César. Quanto ao ainda primeiro-ministro de Portugal, cujo prazo de validade está cada vez mais perto de expirar, é inequívoco que levou dos Portugueses um expressivo "cartão amarelo" que confere, por outro lado, ao árbitro de serviço em Belém, a necessária autoridade moral para um esperado "cartão vermelho" a este putrefacto governo. Quanto ao ainda presidente do governo regional dos Açores, cuja vida política está já a completar o fim do seu ciclo, sai também "chamuscado" a nível regional, sendo que, no panorama nacional já estava "queimado" com os episódios despesistas e faustosos da sua corte, cujo folhetim da remuneração compensatória foi apenas o capítulo mais recente.

Mas, César tem esta fixação de julgar, com arrogância, que Autonomia é ele e os Açores nele se esgotam. Tal como Luís XIV, o absolutista "Roi Soleil", que se diz proclamava "L’État, c’est moi", também César tem a vaidade de se julgar dono da Autonomia, dos Açores, e dos Açorianos como se estes lhe devessem vassalagem, nomeadamente, através do voto. Consequentemente, julgava ser bastante a sua palavra para condicionar o voto dos Açorianos nas Presidenciais. César vociferou aos quatro cantos do arquipélago que o bardo Alegre era o melhor amigo dos Açorianos e até fez coro com uma frente política contra-natura que congregou revolucionários trotskistas, à moda do bloco de esquerda, com conservadores independentistas, do que resta do PDA. Franqueou as portadas da sua coutada insular a Manuel Alegre julgando ter suficiente temor reverencial dos Açorianos que identificando-se com o voluntarismo de César votariam, como ele, em Alegre. Carlos César, acastelado em Santana, até fez campanha do alto sobranceiro da sua tribuna de Presidente do Governo Regional aproveitando toda e qualquer recepção no Palácio de Santana para atacar Cavaco Silva e enobrecer o Alegre trovador.

Apesar do mimetismo com a pulsão absolutista, a verdade é que ninguém é dono do voto dos Açorianos, e estes também mostraram maturidade suficiente para assumirem as suas responsabilidades para com a Nação. Apesar do discurso de César apelar a uma infantilização do eleitorado, com a ameaça do Cavaco "Papão" das Autonomias, os Açorianos souberam fazer por si próprios a leitura do que estava em jogo. Carlos César, e o PS Açores, empenharam-se, como se não houvesse amanhã, nesta campanha de Manuel Alegre. Fizeram dos Açores o terreiro de onde partiria a Alegre armada, mas a verdade é que não engajaram nessa campanha a maioria dos Açorianos!

Entre perdas e danos ainda ninguém teve a coragem de somar à derrota política a derrota pessoal de Carlos César, não só pelo revés dos resultados, mas também pelo facto de ter indigitado para a Direcção de Campanha Nacional de Alegre o infante Francisco César. Como o nepotismo nunca foi um valor republicano, também aqui o eleitorado Açoriano não se reviu na mais-valia da majestática presença de Francisco César no palco da corte nacional da dinastia rosa à qual, graciosamente, pertence por filiação e, nobiliarquicamente, foi levado por mão paterna ao vínculo de vice-presidente do PS no Parlamento Regional.

Em suma : foi o Povo Açoriano que, nestas eleições, rejeitou um atestado de menoridade passado por quem se julga dono da Autonomia e dos Açorianos. Nada fica como dantes, até porque para o futuro, César perdeu também um aliado em Belém para a sua deriva pessoal de poder em 2012. Quebrou-se, para já, um elo do ciclo vitorioso do socialismo a cuja família César pertence.



João Nuno Almeida e Sousa na edição de 31 de Jan. do AO

Post-scriptum: A Senhora Secretária Regional do Trabalho, Solidariedade Social e Aeronáutica Civil devolveu a bolsa que a respectiva Direcção Regional, que por sinal é tutelada por ela própria, pagou ao seu filho para o Curso de Piloto Aviador! Porquê ? Não era um direito que adquiriu de modo legítimo e transparente no quadro da legalidade vigente ? Foi por querer anular um “negócio consigo mesma” ? Por causa dos blogs, das redes sociais, das parangonas na comunicação social, da Sic e da TVI ?

Sem comentários: