quinta-feira, maio 20

Desditosa Pátria !

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Com ar seráfico o lobo veste a pele de cordeiro e anuncia um "bombardeamento" fiscal sobre tudo e todos. Sendo certo que "homo homini lupus", ou seja, que "o homem é o lobo do homem", o lobo mau desta história é, já se sabe, Sócrates. Por muito menos, Sócrates, o verdadeiro, foi condenado à cicuta como remédio para os males que tinha causado a Atenas e à Grécia ! Hoje o nosso Sócrates de ocasião condenou-nos à penúria. Não bebeu cicuta mas diz que bebe "Coca Cola", a uma taxa reduzida de 5% de IVA, o que afirma não ser justo ! Foi com este pusilânime exemplo da "Coca" e da "Pepsi" que o nosso primeiro-ministro, literalmente, justificou a subida da "taxa reduzida" do IVA que incide, como se sabe, fundamentalmente sobre bens de consumo essenciais. Como Sócrates é magnânimo na desgraça vai agravar ainda a "taxa intermédia" e a "taxa normal" do dito IVA, as taxas de IRS e de IRC, o imposto de selo, e das mais-valias, enfim "o diabo a quatro" para reduzir o défice. Dizem que é uma espécie de "PEC". Uma sequela, tipo "PEC II", mas muito pior do que inicialmente se previa pois feitas as contas parece que afinal o défice ronda os 10 % do PIB, a dívida acumulada aproxima-se dos 80%, a dívida externa portuguesa é de 112% do PIB…muito mais do que os milhões que o Estado pretende poupar até ao final do ano económico com o pacote de austeridade que vai impor aos Portugueses. Com efeito, a dívida externa roça já os 200 mil milhões de euros, pelo que, os 80 milhões que o Estado pretende poupar, esbulhando o cidadão, são apenas "trocos". A conclusão óbvia é que temos um país hipotecado com a agravante de ter desinvestido ao longo dos anos na produção nacional e nos recursos humanos da nação. Hoje somos um país de serviços e de dívidas - (e ao serviço destas) - sem receitas para nos superarmos com os nossos próprios recursos. Neste cenário é com descarada injustiça que pelos pecados públicos de uma gestão danosa da coisa pública o governo da república chama os privados para se penitenciarem, sem culpa formada, pelo descalabro da nossa economia e das nossas finanças. A prová-lo basta olhar para o "pacote" de medidas para redução do défice público que não passa por uma séria contenção da despesa pública. Ao invés, o pacote de austeridade implica um aumento dos impostos sobre o cidadão comum bem como sobre as empresas Portuguesas que ainda não soçobraram à bancarrota. Tudo isto foi anunciado com uma ladainha patrioteira pela voz do primeiro-ministro que nenhuma legitimidade possui para a vitimização quando é ele próprio o autor moral da desgraça e o algoz da nação. Não há desculpas para Sócrates e o mesmo não merece a "muleta", seja de quem for, para se manter de pé no Poder arrastando atrás de si um manto de apodrecimento desta desditosa Pátria. Merecia sim governar sob tutela do eleitorado e dos órgãos de soberania sem a ameaça de qualquer moção de censura, ou outro expediente, que lhe servisse de pretexto para mais uma actuação dramática, desta feita como "Calimero", pois já gastou a cara de pau de "Pinóquio". Convocar à dramatização Camões, como o fez Sócrates, citando-o para a congregação de um esforço patriótico, é de tal forma vil que creio que os ossos do poeta, no remanso do Mosteiro dos Jerónimos, já deram várias voltas na respectiva catacumba!

Desditosa pátria esta que em vez de líderes tem cobradores de impostos.

João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

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