quinta-feira, outubro 30

Made in U.S.A.

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Em 1964, Irving Wallace, um dos mais populares criadores de best-sellers americanos, publicava o controverso "The Man". A novela de Wallace partia do cenário "what might have happened" se um "afro-americano" chegasse a Presidente dos Estados Unidos. Publicado numa era de forte activismo pelos ditos "direitos cívicos" o livro era mais uma provocação de Wallace e a personagem Douglass Filmam (the black president) era uma mera ficção. Hoje, quase cinquenta anos depois, a realidade poderá superar a ficção. A avaliar pela via de beatificação de Barack Obama este poderá ser na realidade o próximo Presidente dos Estados Unidos, e o primeiro negro a assumir o comando da Casa Branca. Obama, que representa com fervor evangélico o milagre da "mudança", promete ser um poço de virtudes e uma mão cheia de mezinhas para as maleitas da América e do Mundo. Com tal aura Obama poderia ter por cognome "o Salvador". Na verdade, qualquer que seja o ângulo, há sempre uma salvífica imagem deste santo homem que irá expurgar todas as iniquidades terrenas. Obama é a personificação da honestidade de Lincoln, possui a elegância carismática de um John Kennedy, a retórica de um Martin Luther King e mais um rol de qualidades que parece ter tomado de empréstimo. Em suma: correndo o risco de ser considerado um herege pelas elites do burgo afirmo que pressinto que Obama não é genuíno. Parece-me mais um produto plastificado de marketing. Tem sido este marketing que tem passado, urbi et orbi, a ideia motriz de que Barack Obama é uma espécie de sabão que irá escanhoar todos os males do mundo, um "ebony soap" que lavará bem fundo as crostas de corrupção da face da terra. Enfim, é mais uma personagem da "soap opera" destas Presidenciais Americanas hipermediatizadas que "tem um elenco de personagens que se sentiriam em casa numa sitcom – o orador que pode mudar o mundo, a autarca de uma pequena cidade e de mentalidade tacanha e o avôzinho" (isto na caracterização do colunista Ivor Tossel do jornal Canadiano Globe and Mail). Ora, para quem não gosta de novelas, mas é coagido às mesmas pela televisão, o fim da 1ª temporada das Presidenciais Americanas é um verdadeiro alívio. Para a 2ª temporada fica em suspenso saber se nas rédeas da Nação mais poderosa do mundo está o "orador que pode mudar o mundo" ou o "avôzinho". Faço fé de que seja o "avô" McCain que, pode não ter as virtudes do "pregador" Obama, mas não é, seguramente, de plástico. Creio ainda que essa genuidade do artigo verdadeiramente "made in USA" poderá fazer a diferença.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com



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