quarta-feira, julho 9

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Detalhes de somenos importância *

O automóvel assume um peculiar fascínio no imaginário local. Não sei explicar as razões deste fenómeno, mas esse é um dado incontornável. Talvez o facto de não existir uma eficaz rede integrada de transportes públicos possa explicar, em parte, o objectivo supremo de aquisição e posse. Contudo, e apesar disso, essa não será seguramente a única explicação.

Agregado ao automóvel - usurpador impune do espaço público, sendo que Ponta Delgada é um bom mau exemplo do que não deve ser a gestão rodoviária de uma pequena-média cidade - assistimos nas ilhas à proliferação de um número considerável dos desportos ditos motorizados, como ralis de ilha, de carros antigos, provas todo-o-terreno, motocross, moto 4 e, mais recentemente, passeios e encontros motards.

No fim-de-semana que passou era difícil imaginar maior profusão de acontecimentos: desde a inauguração das Portas do Mar, passando pelas Festas das Ribeira Grande às da Ribeira Quente e ao Sata Rallye. Bom senso é necessário, mas nem sempre está disponível. E, nessa medida, gostaria de referir o estado caótico, ao nível da circulação automóvel, que afecta os cidadãos da cidade de Ponta Delgada (e algumas zonas da ilha), quer devido às obras na marginal, quer às de saneamento básico ou outras que, não obstante a época alta, a de maior fluxo turístico às ilhas, teimam em iniciar-se, provocando constrangimentos ainda maiores ao trânsito. Já nem falo de cortejos e procissões sem aviso prévio e sinalização adequada que provocam o desespero dos locais (imagino bem o que dirão todos aqueles que andam por aí de férias). Bom, e de regresso ao “desporto automóvel”, parece-me inadequado e mesmo inusitado que se encerrem artérias fundamentais da cidade para a instalação das infra-estruturas de apoio às equipas, da mesma forma que é completamente despropositado que se dê o arranque oficial da referida prova a partir do centro da cidade e em plena “hora de ponta” (quase em simultâneo, na passada 5ª feira pelas 19h00, decorria a recolha selectiva - fundamental e necessária - em pleno centro histórico. Havia necessidade?!). Detalhes de somenos importância.

Queremos fazer dos Açores uma região ambientalmente sustentável, mas paralelamente, e tendo em conta todo o investimento em torno do ambiente e da promoção turística, não será desadequada ou mesmo contraproducente a promoção de desportos que ponham em causa o equilíbrio que queremos implementar, em detrimento de outras iniciativas desportivas mais condizentes com a causa ambiental?! O mundo está em mudança e com ele velhos hábitos... que teimosamente, e daí talvez não, irão ter de se reajustar. Quer queiramos, quer não.


* edição de 08/07/08 do AO
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*** Imagem X Rui Guerra - Open Fotosub Graciosa

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