sexta-feira, fevereiro 8

américa, américa

e agora Partido Democrata?

Para quem gosta dos EUA e, believe me, eu gosto uma das características, desse imenso país, que não pode deixar de nos fascinar é a sua estonteante diversidade. De Nova Iorque a Seattle, de Seattle a San Diego, de San Diego a Miami, de Miami a Nova Iorque, passando por Anchorage e Honolulu. Dentro deste enorme caldeirão incandescente está toda a diversidade do mundo. Mas se a land of the free nos fascina pelo que representa de oportunidade e de sonho, não nos podemos esquecer que parte substancial dessa diversidade é puritana, conservadora e segregacionista. Al Gore e John Kerry sofreram na pele o poder dessa América, receio que o Partido Democrata se esteja a preparar para sofrer de novo. Os dados que neste momento estão em cima da mesa são, em termos muito gerais, os seguintes: um descontentamento profundo face a George Bush, um clima intenso de crise económica, a guerra no Iraque e um certo ar de euforia pela possibilidade de ocorrência de um facto histórico da eleição de um negro ou de uma mulher. Se esquecermos o folclore das primárias e dos caucus, que rapidamente serão postos para trás das costas assim que a luta for pela Casa Branca e não pela Convenção vemos que mais uma vez a América se vai partir ao meio, numa corrida acirrada, onde, por uma margem mínima, o candidato Republicano vai ganhar. E desta vez sem a ajuda das maquinas de voto do solarengo estado da Florida. O Partido Republicano parte para esta corrida sabendo que sai em desvantagem, pelas quatro razões que referi atrás – Bush, a crise, a guerra e o elan dos Democratas. Em face disto, em face desta viragem do pêndulo político para o centro esquerda, o Partido republicano joga a cartada McCain, num esforço consciente de manter para si o poder da Casa Branca. E por mais que hoje os evangélicos e reaccionários se atirem com unhas e dentes a McCain, em Novembro até esses gritarão slogans de que Deus no Céu e McCain na Terra. A escolha dos republicanos está feita e os próximos meses serão passados a negociar os acordos que permitirão ao Partido manter a Casa Branca. Mas não é só o facto de McCain ser um candidato de centro que dá segurança aos republicanos, tanto na questão económica, como no problema da guerra, McCain é também o candidato que poderá apasiguar os americanos. A crise do imobiliário americana é uma crise especulativa que mexe com o sistema financeiro afectando grandemente as Companhias de Seguros e os fundos de investimento e de capital de risco. São precisamente essas instituições que quererão continuar a manter o controlo total sobre a economia e não verão com bons olhos uma intervenção profunda do Estado no sistema. Ao mesmo tempo são também estas instituições que lutarão sempre contra as propostas democratas quanto ao Health Care. O dinheiro que vai ser investido na campanha de McCain por eles será avassalador. No que toca à guerra é um erro pensar que exista um consenso taxativo na população americana quanto a uma retirada imediata do Iraque. É preciso perceber que para os militares americanos e a para as suas famílias o impacto psicológico de uma proto-capitulação face ao inimigo neste momento pode ser destruidor. McCain, o veterano, sabe-o melhor que ninguém. Para uma grande maioria da população americana será mais importante uma solução para a guerra que dê à América e aos seus militares a sensação de closer e de uma, mesmo que mínima, razoabilidade para anos de sofrimento e conflito, em vez de uma capitulação imediata e unilateral. Do lado Democrata o factor mudança, que é no fundo uma esperança etérea, pode vir a ser o elemento primordial, tanto para Hillary como para Obama, mas não será nunca o elemento único para conquistar a vitória. A forma como em Novembro o candidato Democrata se colocar face às questões económicas e da guerra será vital para o resultado e no fim, também o impacto do momento histórico fará sentir o seu tremendo peso. Estão ou não os americanos preparados hoje para eleger uma mulher ou um negro? Por mais que eu queira acreditar no contrário estou convencido que não e que dos dois o que tem menos hipóteses é o negro. Para além disso Obama é um bom motivational speaker a quem lhe falta a frieza necessária à liderança, algo que já está a ser explorado por Hillary e que será ainda mais por McCain. Aquilo que a todos nos fascina em Obama pelo que representa de sonho e esperança é exactamente o que pode jogar contra ele num mundo de decisões e pragmatismo. Nem sempre o mundo está preparado para a mudança.

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