terça-feira, janeiro 29

A absurda tripolaridade

É sabido que o critério que regeu a organização da Universidade dos Açores foi um critério eminentemente político, o da tripolaridade. Esta malfadada tripolaridade é debilitante por várias razões, duas das quais parecem-me centrais. A primeira tem que ver com os custos exorbitantes, diria até insuportáveis, que dela resultam. A segunda prende-se com uma questão mais substantiva: a tripolaridade dificulta a criação de sinergias entre as mais diversas disciplinas, um requisito essencial nos tempos que correm. Hoje, a interdisciplinaridade anda de mãos dadas com a especialização. Existirão aqueles que invocarão a justiça social como um valor mais alto, ao qual o conhecimento - a Universidade - deverão estar sujeitos. Todavia, qualquer pessoa com bom senso percebe que os critérios políticos não devem reger a forma como organizamos a "produção" do conhecimento. Por exemplo, é essencial que um estudante de oceanografia ou de estudos do ambiente possa conversar com um estudante de relações internacionais. O estudante de relações internacionais ou ciência política poderá informar o ambientalista acerca dos processos políticos globais ou nacionais que afectam o ambiente, etc. Penso que é importante reconhecer que as sinergias entre disciplinas não resultam apenas das tentativas institucionais de incitar relações entre departamentos. Resultam, também, da convivência espontânea e informal entre estudantes e professores das mais diversas disciplinas. As sinergias surgem das relações entre pessoas e conhecimentos. A tripolaridade é, portanto, um absurdo. A nossa Universidade reflecte, na sua organização, uma vulnerabilidade que sentimos todos os dias. Perpetua-a e agrava-a, invés de a transcender.

PS: espero que isto não seja interpretado como um sintoma do mais primário bairrismo. Senso comum, meus caros, nada mais.

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