quarta-feira, junho 6

Para memória futura





No dia 6 de Junho de 1975 milhares de pessoas encheram as ruas de Ponta Delgada. Sob o grito "Lisboa escuta, os Açores estão em luta" acabaram por reclamar a independência dos Açores. Hoje, temo que o 6 de Junho de 1975 seja esquecido. Não creio que algum dia se faça Justiça ao movimento separatista Açoriano e ao episódio da manifestação de protesto da lavoura Micaelense que acelerou o "processo autonómico". Não é sequer de esperar que se condene institucionalmente a deriva totalitária que, nos idos do verão quente do PREC, reintroduziu por cá o encarceramento por delito ideológico. Lastimo, na verdade, que o 6 de Junho de 1975, seja arredado para as sombras dos prosemas de ocasião em laudatórios hinos à "açorianidade", na companhia de Vitorino Nemésio, ou de outro qualquer ilustre paladino da utopia radical da Liberdade destas ilhas. Ora, num tempo em que se trocam "medalhas" de mérito insular, elevando a comendadores da "pátria" Açoriana "arqui-inimigos" de outrora, não era já tempo de institucionalmente a Autonomia prestar homenagem ao movimento do 6 de Junho de 1975?
Com efeito, o 6 de Junho de 1975 precede a consagração da Autonomia, que emerge pela primeira vez em Abril de 1976, quando a Assembleia Constituinte aprovou a versão originária da Constituição da República Socialista Portuguesa. Ora, essa "concessão" resultou de uma revolta com epicentro em São Miguel que cedo repudiou a degenerescência de movimentos como o MFA e o COPCON que, com a bênção de personagens como Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho, colocaram Portugal à beira do abismo de uma ditadura comunista. Esta pretendia clonar entre nós o que de pior existia na galeria do marxismo-leninismo. Nesse desvario revolucionário os Açores replicariam o modelo castrista e seriam uma espécie de "Cuba do Atlântico". Recorde-se que, à data, estas personagens, ressentidas com o desaire eleitoral de 25 de Abril de 1975, perspectivaram o resultado do escrutínio popular como "contra-revolucionário". É assim neste clima de terror, sob a ameaça real de uma ditadura militar de inspiração sovietizante, que inevitavelmente eclode o 6 de Junho de 1975. Hoje, à margem da orfandade do comunismo, é pacífico afirmar-se que tal movimento foi um dos muitos marcos da nossa história insular contra a tirania, em plena sintonia com a secular tradição liberal dos Açorianos. O 6 de Junho de 1975 pode justamente reclamar a sua quota-parte na empresa da Autonomia e da Democracia. Consequentemente, merecia mais do que uma esconsa placa toponímica na cidade de Ponta Delgada. Para memória futura merecia, pelo menos, que fosse feita a sua História e que o 6 de Junho de 1975 fosse objecto de estudo, quer do ensino básico, quer das insignes cátedras da nossa Universidade.
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in crónicas digitais do jornaldiario
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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