sexta-feira, setembro 24

Teatros

Provavelmente eu não devia entrar por aqui, mas ao ler o post do Nuno e quando me lembro das primeiras batalhas deste blog, essa raiva anti-fox que animou os nossos primeiros tempos, acho que é importante que vá por aqui. Em nome da honestidade convém lembrar que este blog nasceu de uma revista que nasceu de uma empresa de produção cultural. Nós, a MUU, somos uma empresa de produção cultural sediada em Ponta Delgada e que se esforça, nestes quatro anos de existência, por produzir os melhores eventos que nos dão hipótese de produzir. Sempre, desde o início, a nossa maior concorrência foram e são os governos: autárquicos, autonómicos ou nacionais, os governos geridos por políticos substituem-se aos programadores e fazem-se promotores de espectáculos. São Câmaras Municipais que contratam agrupamentos musicais, são Secretarias Regionais que organizam concertos, são Presidências que promovem espectáculos. Não importa qual é o partido, o espírito é o mesmo. Por cada 100 euros que um promotor independente recebe os "governos" gastam 1000, em adjudicação directa, com um mínimo de intermediários, de critérios e só com um objectivo - as massas. Aqui chegamos ao Teatro Micaelense. Logicamente que para mim, e falo mesmo só em nome pessoal, a empreitada de recuperação do Teatro é uma obra de imenso valor e que merece ser elogiada, independentemente de tudo o que ficou pelo caminho, primeiros projectos, primeiras ideias, primeiras intenções. O que está feito é algo que a todos nós nos deve orgulhar, esperemos que assim também com o Coliseu Micaelense. A merda toda está na programação. Inaugurar um espaço destes, à força toda, encavalitando eventos uns nos outros em duas semanas como se Ponta Delgada fosse Nova Iorque e o Teatro o Madisson Square Garden é algo que mais do que me angustiar, porque já não me choca, é algo que me enoja. Numa lógica populista e demagógica e que por isso mesmo é autista em relação aos verdadeiros anseios e desejos da população de Ponta Delgada o Governo Regional, dono desta trapalhada, decide oferecer às massas uma sequência infeliz de eventos que não são culturais, que não são arte, que não são mais do que pura campanha política e partidária. Do Carreras ao La Féria, com a reciclagem metropolitana da Broadway pelo meio, o Governo Regional faz fogo de artifício com três espectáculos que numa cidade deste tamanho e com estes hábitos culturais deviam ter pelo menos um mês de intervalo entre cada um. Quem, como nós, está habituado a promover cultura sabe o drama que é encher uma sala com esta população, e como diz o Nuno o dinheiro que gastaram nestes dez dias dava para um ano inteiro de eventos culturais, esticado dava mesmo um cada quinze dias. E o pior é que a única intenção por trás desta encenação é o delírio das massas. Tudo com um Tenor em ocaso, uma orquestra em saldo e um malabarista vazio de criatividade que nunca teve uma ideia original na vida e que ganha a vida enganando o povo com espectáculos revisteiros que envergonham as obras e as vidas genuínas que os inspiram. Ao Sr. César não basta abdicar do mandato um mês antes das eleições quando deixou já despachado todo o festival demagógico que será um governo em reeleição. Da mesma maneira que uma Câmara Municipal não pode ser ao mesmo tempo promotora, patrocinadora e fiscalizadora de eventos. Algo está mal nesta política, ou deveria dizer politiquice, que faz de nós, contribuintes como diz o Nuno, palhaços da conquista desalmada do poder. Mal estamos todos quando até a cultura é granada de arremesso político no concurso da conquista do voto.

Merecíamos políticos melhores, infelizmente...

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