sexta-feira, dezembro 1

Às vezes até o inacreditável é possível

A história é simples e pode ser contada em poucas palavras. Durante dois anos os proprietários do Concelho de Ponta Delgada pagaram o Imposto Municipal sobre Imóveis à taxa máxima, isso deu alarido e no ano passado, que foi ano de eleições, a Câmara baixou o imposto. Nada de especial, estava no seu direito e foi bem feito. Dá-se o caso porém que agora, um ano passado sobre umas eleições e três anos antes de outras a Câmara vai e sobe novamente o IMI para a taxa mais alta. Está no seu direito, sem dúvida, mas o que é mais inacreditável é que nessa ânsia moderna de mediaticamente justificar ao povo o injustificável a Câmara decide fazer passar a mensagem de que este aumento do imposto é uma medida para incentivar a recuperação dos imóveis degradados. Diz a Câmara que ao aumentar o IMI de um imóvel antigo de 0,4 para 0,8 e no acto prometendo que se o proprietário fizer obras o imóvel será reavaliado e passará para 0,3 está a fomentar o mercado à recuperação dos imóveis, uma vez que a proliferação de edifícios degradados é uma chaga que afecta o Concelho. Nem o saudoso e recentemente falecido Milton Friedman, pai do liberalismo económico moderno, se lembraria de tal coisa. Desde quando o aumento de um imposto é um incentivo ao investimento? Pergunto eu e perguntará certamente o leitor. Pois, mas o problema não está aí, o verdadeiro problema está naquilo que a Câmara não diz e que os jornalistas da nossa praça também não perguntam, não investigam e não noticiam. É que como qualquer pessoa com dois dedos de testa pode perceber é que é por razões de orçamento e de tempo político que a Câmara Municipal de Ponta Delgada decidiu aumentar as Taxas de IMI para ver se arrecadava mais uns milhões, porque, como toda a gente sabe, o IMI é dos impostos municipais aquele que mais dinheirinho dá às Câmaras, só que como isso é uma medida politicamente impopular os demagogos de serviço na Câmara inventaram esta estupidez de que isso é uma medida para incentivar a recuperação dos imóveis degradados. Ora bem, imagine o leitor que é dono de uma casa que é assim para o antigo e que está avaliada em 1000 euros, a casa até está um poucochinho degradada e por causa desta nova medida o leitor decide fazer umas obras, recuperar o imóvel, pedir nova avaliação e ver se em vez de pagar 0,8 sobre 1000 euros consegue passar a pagar 0,3. Mas o que a Câmara não lhe diz e que eu lhe digo, caro leitor, é que depois das obras e depois da avaliação o seu prédio que valia 1000 passa a valer, sei lá, 10 000 e é muito diferente pagar 0,8 de 1000 e pagar 0,3 de 10 000, não é caro leitor? Existem outros exemplos da nefasta retórica política, que hoje em dia está na moda, e que foi exaustivamente usada pela Câmara neste assunto, como essa esterqueira de dizer que uma taxa que sobe de 0,2 para 0,3 só subiu 1 ponto percentual quando na verdade o que está em causa é que o valor dessa taxa subiu 50%, já para não falar no aumento de 100% na taxa que subiu de 0,4 para 0,8, mas isso já era bater de mais nos jornalistas, que no fundo são apenas os mensageiros, quem faz a mossa são os políticos, políticos esses que nós merecíamos que fossem melhores. Enfim, é o Portugal que temos e como é 1 de Dezembro vale a pena dizer: Viva España!

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