quarta-feira, dezembro 6

coisas realmente importantes

Não sei bem porquê mas o tema Aborto é dado a todo o tipo de extremismos. No canto do Não juntam-se vários géneros de conservadores e, para grande espanto meu, até alguns desses novíssimos liberais que pululam pela blogoesfera nacional num esforço absurdo por santificar o feto, o que me parece ser o cumulo de uma sociedade, ou melhor, de um tempo que se recusa a ser adulto querendo a todo o custo eternizar a juventude, que é, como todos sabemos, a idade de todas as inconsciências. No canto do Sim congregam-se toda a espécie de abolicionistas, grande parte deles inspirados pelo mesmo tipo de radicalismo dos que estão do outro lado e não se coibindo muitas vezes de usar de retórica e demagogia semelhantes. Eu bem sei que tinha prometido não discutir muito sobre este assunto, mas agora que está lançado o jogo importa fazer um ponto de ordem. Do lado do Não, esse lado que se arroga detentor da verdade do feto, do primado da vida, da santidade do nascituro, é comum, num gesto da mais baixa demagogia, designar o actual referendo como da liberalização, querendo fazer passar a ideia de que este referendo pretende instaurar em Portugal um sistema em que qualquer um se pode candidatar a praticar um aborto. Isto seria irónico, se não fosse grave, é que o que este referendo de facto pretende é impedir que o mercado funcione e impor regras a uma pratica que hoje está liberalizada em clínicas de vão de escada. Este pequeno truque linguístico que têm vindo a ser exaustiva e planeadamente usado revela bem da moral distorcida dos que o empregam que não se importam de mentir com todos os dentes que têm na boca apenas para fazerem vingar o seu ponto de vista. O que está realmente em discussão é a despenalização de um acto médico regido por critérios de saúde pública, tudo o resto, mesmo o individualismo radical de slogans escritos no umbigo, é puro ruído.

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