domingo, outubro 1

CHERCHEZ LA FEMME #10













Marilyn Chambers, a.k.a. The Ivory Snow soap girl


Em matéria de Marilyns, escrever sobre a Monroe seria uma vulgaridade previsível e, salvo o devido respeito à famosa pinup presidencial, sinto pela Chambers maiores afinidades geracionais, não obstante ela levar-me alguns anos de avanço. Marilyn Ann Briggs nasceu a 22 de Abril de 1952 em Westport, Connecticut, muito embora alguns sites na Net afirmem ser ela natural de Providence, Rhode Island. A mulher não possui qualquer biografia oficial, atributo imprescindível das urban legends americanas, mas caso este último palpite se confirme ainda não perdi a esperança de que venham a descobir, entre os seus ancestrais, uma avó de Rosto de Cão, ou mesmo dos Remédios da Bretanha, viveiros genéticos preciosos das mais ardentes loiras açorianas. Adiante. A Marilyn começou a fazer-se notar aos 17 anos quando aparece na caixa de sabonetes Ivory Snow com um bébé ao colo que, dizem as más linguas, seria a Brooke Shields. Depois disso ainda tentou a carreira de actriz moralmente correcta, contracenando com Barbara Streisand num filme de que já não recordo o título, mas o seu definitivo passaporte para a fama foi o épico Behind the Green Door (1972), fita que os entendidos não hesitam em classificar como marco miliário da indústria do cinema pornográfico. Foi nesses preparos que a conheci, sem silicones ou subterfúgios de maquilhagem, nas sessões contínuas do multicultural cinema Olímpia que, felizmente, ainda resiste (acho eu) à voragem da pipoca e das grandes cadeias de distribuição. A espontaneidade e voluntarismo da Marilyn eram tais que a fronte do ecrã do Olímpia até ficava perlada de suor. Com o seu ar de girl next door chutou imediatamente para fora a outra estrela da época, Linda Lovelace, uma senhora um bocadinho mais plástica a quem tive o prazer de ser apresentado no Cine-Teatro Carlos Alberto, no Porto. A Linda era um coirão que só nos punha a pensar em porcarias, mas a Marilyn Chambers, com aquele seu ar lavado de atleta olímpica, até me inspirou sonetos de amor. Nunca percebi muito bem por que razão o Andy Wharol não agarrou nela para um dos seus filmes. Provavelmente porque Miss Chambers andava pela contracosta da Califórnia, cluster da pornografia americana, longe da Factory e do Studio 54 em Nova Iorque, onde Wharol fazia o body hunting que marcava o padrão da moda nesses saudosos dancing days. Seja como for, ninguém tira à Marilyn o seu lugar cativo no Panteão da década de 70, ao lado de Watergate e uns furos acima da Jane Fonda.

Sem comentários: