quinta-feira, fevereiro 23

Ilhas # 2




A Terceira, brasileira.


Todos temos pontos fracos. Nós cegos que não se desatam. Fios bordados a ponto cruz que cosem os nossos afectos a uma malha solta da cidade. Em Angra, há qualquer coisa nas janelas, no ritmo aprumado das suas sacadas, que anuncia vestibularmente o Brasil. O Atanásio não me deixa mentir e as quintas de São Carlos confirmam-no. Esta terra já era americana antes de Washington ser Presidente. Até a sala dos Reservados da Biblioteca, com os seus ornatos neo-joaninos do tempo da Junta Geral do Distrito, evoca essa América portuguesa que João Cabral de Melo, poeta cortesão de Angra, cantava em poema às filhas de Dinis Gregório, Capitão-General dos Açores. Sempre que vinha cá fora, no intervalo da leitura do Diário das Cortes, encostava-me aos sinos da Sé, apeados para restauro sabe-se lá há quanto tempo, coitados. O sol de Fevereiro estendia-se langorosamente pelo adro da Sé e refulgia nos cromados de um Jeeep Cherokee, ali estacionado à ilharga do Santíssimo Salvador, desafiando a lei da gravidade. Que não a de Newton. O melhor desta cidade, tenham lá santa paciência, não são os toiros, como dizia Antero a Oliveira Martins. O melhor da Terceira, as freguesias que me perdoem, é aquele bocadinho de cidade entre a Carreira dos Cavalos e a Rua do Salinas, o seu logradouro em varanda sobre a baía. Chegado a este ponto, hesito sobre o que dizer do Jardim dos Corte Reais e procuro lembrar-me de como era o Cais da Alfândega no século passado. Mas, pronto, é Carnaval e ninguém leva a mal.

Sárává, Terceira.
Boa Terça-feira Gorda, Blogosfera.

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