sábado, novembro 21

Brevíssimas notas sobre o novo Governo Regional


ou curtas impressões caricaturais sobre o Governo das direitas encostadas…

a)       Presidente do Governo Regional

No seu habitual estilo palavroso, gongórico até, José Manuel Bolieiro, o nosso Boli amigo, apresentou ontem, nas cercanias do Solar da Madre de Deus, nessa mui nobre cidade de Angra do Heroísmo, aquilo a que o próprio chamou de um Governo não “acomodatício” e “transformista” sic. A principal característica de Bolieiro, nestes últimos anos, foi estar quieto, quase escondido, passando pelos pingos da chuva, como uma gata em telhado de zinco quente, de forma que pouco mais lhe conhecermos de acção política do que uma muito alardeada simpatia, a que agora se acrescentou uma denodada capacidade negocial. Temo, tanto pelo claudicar político e ideológico dos Acordos de Governação e de Incidência Parlamentar, como pela constituição do próprio Governo, que tais dotes estejam grandemente inflacionados e que o que fique do novo Presidente do Governo não seja mais do que a retórica barroca de um magistrado frustrado. A herança que ficará deste governo, das direitas regionais, só o futuro dirá e, se lhe não podemos dar o habitual estado de graça, pela voragem sórdida e apressada do seu assalto ao poder, podemos, pelo menos, dar-lhe o regimental benefício da dúvida.

b)      Vice-Presidente

Artur Lima é, por todas as razões e mais alguma, o mais assumidamente transformista dos membros deste governo. Uma verdadeira Belle Dominique da astúcia política, com décadas de travestismo parlamentar no seu currículo. Mas, o facto significativo da orgânica deste governo não é tanto o estatuto de Vice, que se coaduna perfeitamente com a soberba e a panache de Artur Lima, mas o assegurar cumulativo da pasta da Segurança Social, que guarda dentro de si, qual bomba relógio, o ponto fulcral da coligação com o CHEGA!. O cumprimento, ou não, das promessas de ataque, sem dó nem piedade, à “subsidiodependência” são o seguro de vida desta coligação e, muito me espantaria que, no curto prazo, não desse a Artur Lima um achaque de “irrevogabilidade” que fizesse cair esta Gaiola de Malucas que é esta coligação das cinco direitas insulares.

c)       Secretário Regional da Saúde e Desporto

Clélio Meneses fica com a pasta mais efervescente do momento. A gestão da pandemia, até aqui protagonizada por Tiago Lopes e Vasco Cordeiro, tem sido feita na base do pânico e do extremismo ideológico do fascismo sanitário, criando não só profundas feridas sociais, económicas e institucionais, como divergências acentuadas com os principais protagonistas do sector: médicos, enfermeiros, etc. Acresce, que esse era já, cronicamente, um sector profundamente doente, com a gangrena da dívida e das listas de espera a crescer exponencialmente de dia para dia, mais do que qualquer mundana cadeia de transmissão. A promessa, irrealizável, de garantir a formação de médicos especialistas é apenas um exemplo de como a gestão de espectativas é ainda mais importante para estes políticos do que a realidade dos factos e a verdade dos factos é que a região não tem nem competência, nem meios, para formar médicos especialistas.

d)      Secretária Regional da Educação

A grande questão sobre Sofia Ribeiro é há quantos anos não entra numa sala de aula ou corrige um teste? Podemos, de balde, reconhecer-lhe competência e inteligência para desempenhar qualquer cargo, mas ficará sempre a questão se não estaria melhor numa pasta de Relações Exteriores, ou Fundos Europeus, do que a remexer no caldeirão reivindicativo e hiper-sindicalizado do sector da educação. O nome com a pasta é mais um daqueles sinais claros de como este é mais um governo de desenrascanço político-partidário do que verdadeiramente “transformador”. Por outro lado, a colocação de Sofia Ribeiro a número quatro do Governo é mais um tiro no porta-aviões da ambição política de Pedro Nascimento Cabral, a quem calhou a fava de todo este bolo-rei governativo: a liderança da bancada parlamentar.

e)      Secretário Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública

Num momento como o atual é incompreensível e, até certo ponto, indesculpável a inexistência de uma pasta da Economia. A agregação de Finanças, Planeamento e Administração Pública leva a temer o pior em qualquer uma destas áreas. Que, quer pela sua dimensão gargantuana, como pelos desafios com que estão confrontadas não permitem perspectivar que um secretário, por mais competente que seja ou experiência que tenha possa, de facto, correr a todas as suas solicitações. Joaquim Bastos e Silva é uma figura com provas dadas e craveira intelectual, mas gerir as finanças públicas regionais, ainda por cima herdando a pasta das mãos de alguém como Sérgio Avila e, ao mesmo tempo, levar a cabo a reforma da administração pública regional, que tem o peso que tem na vida dos açorianos, é uma tarefa hercúlea, mesmo para um leitor assíduo do Financial Times.

f)       Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural

António Ventura é uma figura inenarrável, que representa, neste Governo, o pior que o costumeiro caciquismo político regional tem para oferecer. Talvez por isso Jorge Rita se tenha apressado a vir elogiá-lo publicamente. Aguardo com curiosidade a prometida “digitalização do sector primário”. Por outro lado, reduzir os muitos desafios da transição do sector agrícola da massificação leiteira para outras culturas às suas condições edafoclimáticas é manifestamente pouco, para aquele que é o principal sector da nossa economia. Já agora, edafoclimáticas não leva hífen.

g)       Secretário Regional do Mar e Pescas

Consta que o novo secretário do Mar adormece nos seus próprios julgamentos, nada mais adequado a quem se pretende lançar aos balanços ondulantes do vasto mar açoriano. Que lhe valha Neptuno, parece-me adequado para um monárquico.

h)       Secretária Regional da Cultura, Ciência e Transição Digital

Confesso que devo elogiar a ascensão, finalmente, da Cultura ao estatuto de secretaria, embora o cocktail de Ciência e Transição Digital, ou lá o que isso signifique, deixe um sabor um pouco adstringente. Ficará para ver como se procederá a ligação com a Administração Publica e outras pastas onde essa dita transição é mais premente.

i)        Secretário Regional do Ambiente e Alterações Climáticas

Tirando o facto de ser pupilo de Artur Lima muito pouco há a dizer sobre Alonso Miguel. As alterações climáticas são um dos maiores desafios do nosso tempo e a preservação ambiental uma responsabilidade enorme numa região como a nossa. Esperemos que a ânsia transformista não contamine esta pasta, onde, mais do que transformismo, o que se exige é conservacionismo.

j)        Secretário Regional dos Transportes, Turismo e Energia

A pasta do Turismo foi protagonista de um episódio absolutamente revelador e paradigmático das idiossincrasias e fragilidades deste Governo. Corria o boato que Bolieiro, apesar dos seus dotes oratórios, não estava a conseguir convencer os famosos especialistas, independentes e profissionais liberais a juntarem-se à sua trupe governativa. É preciso perceber que ninguém com carreira e um emprego estável e bem remunerado na privada, ou simplesmente que esteja no seu perfeito juízo, quereria juntar-se a um Governo que deve a sua longevidade a dois ogres do neo-fascismo-luso. De qualquer modo, quando começou a correr o nome de Mota Borges, todos pensámos tratar-se de Alberto Mota Borges. O que, sendo verdade, era uma excelente escolha, não só pelo seu currículo, a sua competência e ética de trabalho, e por ser um conhecedor das áreas que iria tutelar: aviação e turismo. Inclusive a sua fotografia chegou a fazer manchete no jornal, o que só revela que só acredita nos jornais quem nunca leu uma notícia sobre si próprio. Porém, o Mota Borges afinal era o irmão mais novo, o que, apesar da importância da mera existência da pasta, deixou o chamado Trade num desolado emudecimento.  

k)       Secretário Regional da Juventude, Qualificação Profissional e Emprego

A presença de Duarte Freitas neste elenco governativo é-me totalmente incompreensível e só é explicável por uma qualquer praxe de subserviência ao protagonismo partidário do mesmo. O que, levado ao extremo, levaria que Berta Cabral, Costa Neves, Álvaro Dâmaso e todos os outros anteriores líderes do partido na oposição fossem agora premiados e chamados a dar o seu douto e vetusto contributo neste novo ciclo governativo. Bem vistas as coisas, se calhar até dava um governo melhor do que este… Por outro lado, o conteúdo da pasta e tão ilustre figura partidária leva a prever o pior no que toca ao agenciamento de empregos para militantes, jotas e outros apêndices da clique social democrata.

l)        Secretária Regional das Obras Públicas e Comunicações

Ana Carvalho, não obstante a sua fama de competência, vem também na esteira desta desmumificação das relíquias social-democratas de antanho, o que diz tudo sobre a capacidade de Bolieiro, e da sua Gaiola de Malucas, de aliciarem novos quadros técnicos e políticos para a árdua tarefa de governar estes nove bocados de contra maledicência plantados no oceano atlântico.

m)    Subsecretário Regional da Presidência

Por fim, Pedro Faria e Castro, uma simpática figura, que ficará com a difícil incumbência de manter o Nuno Barata bem-disposto ao longo da legislatura, o que não se avizinha ser tarefa fácil.

le jeu sont fait rien ne va plus

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