sábado, abril 19

A paz não NOS cai bem!





Era eu pequenino e queria ser grande para poder tratar das coisas que os homens grandes guardavam só para si.
Havia um certo mistério em tudo o que os grandes faziam. Eram grandes feitos. Coisas importantes. Estratégias consertadas com outros grandes vultos.
E eu, pequenino, sonhava ser grande e, com grande emoção, buscava ter o que julgava não ser, tal era a importância daquilo sobre o qual os homens grandes se orgulhavam nas suas ainda maiores conversas.
Hoje, todos os pequeninos do meu tempo de pequenino são já homens grandes e eu, amadurecido, atónito vivo porque ser grande é, afinal, nada daquilo que eu sonhei poder ser.
É verdade que esta vida de gente grande nos deixa pouco tempo para pensar sobre o que estamos realmente a fazer. É verdade também que, agora que somos grandes, não temos tempo para coisas de rapazes. Estamos, pois, preocupados com as coisas ditas de governo, por tão importantes serem as questões do poder.
Não são poucas as vezes que eu me arrependo de me ter tornado num homem grande. Contudo, como não posso, nem quero, voltar a ser pequenino - a mim, nenhum homem grande me apanha a querer ser como ele outra vez -, vou-me alienando de uma indeterminada-mas-determinante maneira de acontecer.
Diz-se que a “Globalização” veio tornar o Mundo mais pequeno. Se, por um lado, tal possa ser entendido como uma verdade fácil de aceitar por ter contribuído para aproximar as pessoas, os seus hábitos e critérios, por outro, é uma insana visão, pois, a “Globalização” tem contribuído – em larga escala – para que a nossa ideia de Mundo seja, hoje, imensamente maior.
Com a “Globalização”, caso curioso para esta pequenina reflexão, os homens grandes dos Açores passam o tempo todo a querer ser como os homens grandes que passaram a conhecer, na Europa, por exemplo. Se isto me deixa empolgado sobre o enorme potencial de evolução que tal postura representa para nós, fico com sérias dúvidas sobre a possibilidade de o sabermos aproveitar porque, no Turismo, hoje, vejo homens grandes a mostrarem aos agentes do sector (e a todos os interessados nestes assuntos) os bons exemplos da Madeira quando, num passado não muito distante, alguém discursava calorosamente sobre a nossa determinante recusa em cometermos os mesmos “erros” daquele arquipélago e que o nosso atraso relativo nos iria ajudar a afirmarmo-nos como um destino de qualidade (seja lá o que isso for).
Não me atrevo a perguntar o que se terá passado para uma mudança tão rápida de paradigma (tanto que estes bons exemplos agora dados já existiam na altura dos discursos inflamados), nem ouso questionar se é assunto relacionado com a umbilical força dos costumeiros envolvidos na edificante estratégia turística arquipelágica mas, não querendo ser mais um destes homens grandes, só nos resta esperar encontrar alguma pista nesta nova música deste pequenino clã.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Carlos Rodrigues
Não sei o que pensar, se calhar até sei bem...
Diria sem grandes modéstia, mas com
alguma observação que este seu post é um retrato não só do Carlos, mas duma certa moléstia que afecta o Ilhéu, por um lado existe uma forma cuidada e valiosa de encarar a realidade(a Turística e de soslaio a politica)mas caracterizada esta realidade o Carlos(mas podia ser outro açoriano residente, que me perdoem os que não são assim...)conforma-se com o que observa e deixa de criticar para se colar à conformação, ao fado, ao destino e se calhar ao fatalismo religioso que vem das "brumas" que cobrem às Ilhas...
De resto só posso lhe dar os parabéns pela qualidade do texto,pela análise da situação com este senão fundamental de não retirar conclusões e pior do que isto aceitar a cruz do adquirido.
Seja como for só posso congratular-me por esta ser uma tentativa honesta e conseguida em parte de retirar o Ilhas desta sonolência "propositada".
Saudações
Açor