quarta-feira, abril 29

Resistir


Os "pesos pesados" do comentário político não hesitaram em declarar que a nomeação de Maria do Céu Patrão Neves foi uma derrota de Berta Cabral no "primeiro round" do circuito eleitoral que só agora começa com as Europeias. Alguns "comentadeiros(as)", a soldo dos interesses da sua escudaria, representaram até um triste e hipócrita acto de solidariedade para com Duarte Freitas, apesar de apostarem na corrida de outro candidato de ocasião por força da perda de confiança política no "candidato natural" do PS ! Como porventura não lêem jornais com sotaque de Lisboa não se aperceberam do rol de títulos que davam conta da cedência de Ferreira Leite aos Açores e à Madeira como o fez, designadamente, o insuspeito Diário de Notícias. Na edição de 23 de Abril noticiava o citado jornal que "a líder nacional acabou por ceder à pressão exercida por Berta Cabral, do PSD-Açores, que recusou o 10º lugar do candidato açoriano ameaçando romper com a direcção nacional do partido". A política por vezes obriga à Arte do possível. Logo, entre uma ruptura sem candidato nas listas do PSD e a inclusão de um candidato de prestígio em lugar elegível, a escolha faz-se sem dúvidas. Com efeito, numa corrida em que o círculo eleitoral é Nacional não há à partida lugares cativos para os Açores, o que só seria possível com um círculo Regional nestas eleições. Mas não é menos verdade, até do ponto de vista da ética Republicana que os Socialistas amiúde gostam de invocar, que nas listas não há lugares cativos para determinadas personalidades. Há sim, politicamente, um lugar dos Açores cuja representatividade importa assegurar. A alternativa seria quebrar um precedente que remonta à nossa primeira participação no acto eleitoral ao Parlamento Europeu que, importa recordar, contou sempre com um Social-Democrata Açoriano, e de prestígio, em lugar elegível. Foi assim, por exemplo, com Duarte Freitas que ocupou o 7º lugar na Lista do PSD nas últimas eleições, e é agora com Maria do Céu Patrão Neves que sobe a fasquia ao assumir o 6º lugar na lista do PSD Nacional. Tudo isto numa eleição com um único círculo Nacional e com a agravante de o processo de alargamento da União Europeia ter vindo a reduzir a representatividade de Países como Portugal. Neste contexto, e nestas circunstâncias, caucionar à partida um lugar elegível que represente de modo qualificado e competente a Região não é, em qualquer "ringue", uma derrota. O PSD/Açores no limite do possível, e nas fronteiras traçadas pelo PSD/Nacional, não se reduziu a uma escolha para cumprir o calendário eleitoral, mas antes privilegiou, como sua primeira e última escolha, uma candidata com prestígio e com projecção Nacional, designadamente, obtida politicamente pelo facto de ter sido mandatária de Cavaco Silva e actual Conselheira do Presidente da República Portuguesa: a Professora Doutora Maria do Céu Patrão Neves. Uma personalidade cuja novidade traz também um novo desafio ao PSD mas que não deixa de ser o resultado de uma negociação difícil com as mais altas cúpulas do Partido a nível nacional. Ver-se aqui um "knock-out" eleitoral só é possível com a miopia selectiva de quem esquece as derrotas próprias e pessoais das cores que defende, designadamente, em "paróquias" bem mais pequenas como recentemente sucedeu com a substituição atribulada do candidato maravilha do PS à Câmara da Povoação que, antes do tempo, foi reformado para dar lugar ao veterano Carlos Ávila! Há quem faça da dificuldade uma oportunidade, como o fez o PSD-Açores, e isso é sempre uma prova de resistência em todos os combates. O resto é ruído de fundo.
...
João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

Sem comentários: