sábado, maio 31

Directas às Directas


Não sendo parte interessada e não tendo seguido a campanha com muita atenção, não posso, contudo, deixar de notar que as directas do PSD suscitaram duas ou três questões (na verdade, quatro)que devem ser destacadas:

1. A maioria do eleitorado do PSD optou pelo modelo Sócrates de saias. Tendo como alternativa a juventude semi-liberal de Passos Coelho ou o liberalismo semi-jovem de Santana Lopes, o PSD profundo optou pelo Keynesianismo de pendor autoritário de Ferreira Leite, isto é, a oferta de que dispunham que mais se aproxima da liderança do PS e do rumo do Governo. Para quem passou os últimos três anos a dizer que o Governo não acertava uma, não é lá muito coerente e, sobretudo, não facilita muito o delinear de uma estratégia de combate para as Legislativas de 2009.

2. As directas tiveram o mesmo resultado que teria um Congresso. Se o modelo eleitoral fosse o tradicional, não há muitas dúvidas de que Manuela Ferreira Leite ganharia na mesma, provavelmente com maior vantagem. A ideia romântica de que as bases falam sempre contra os barões e que as directas colocam todos em pé de igualdade não passa disso mesmo, de uma ideia romântica que menospreza o efeito cruzado dos media, dos financiadores, dos apoios públicos e das estratégias privadas.

3. As directas tendem a esquartejar os partidos e a legitimar em excesso os oposicionistas. Quando há mais de um candidato e os resultados são relativamente equilibrados, as directas são como uma falha tectónica aberta no meio de um partido. O PSD, por exemplo, ficou com uma líder e dois vice-líderes. Cada um deles dispõe praticamente de um terço do partido e cada um deles pode continuar a fazer valer esse terço de legitimação de cada vez que o achar útil. Santana Lopes já deu a entender que o fará e Passos Coelho, se bem que com outra subtileza, concerteza não o deixará de fazer.

4. Vistas dos Açores estas directas foram mais um magnífico exemplo da personalidade ciclotímica de Costa Neves. Primeiro não queria cá os candidatos. Depois, disse que gostava muito de Ferreira Leite e de Passos Coelho, mas que não dava indicação de voto aos militantes dos Açores. A seguir, foi à sessão de campanha de Ferreira Leite e disse que a apoiava. E agora, para rematar, apressou-se a tentar colher alguns pózinhos da vitória e já fala em listas ao Congresso. Fantástico para quem se diz coerente.

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