quarta-feira, outubro 24

Cumprir Portugal


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"Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal."

Fernando Pessoa.
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A história militar do Século XX Português está juncada de mistificações, mitomanias e de falsos heróis. Em suma: é uma história mal contada. Desde o terrorismo carbonário, que fundou a República através do assassinato do Rei de Portugal, até aos delírios sovietizantes dos militares do PREC, não faltam exemplos de glorificação da infâmia, do mesmo passo que, na sombra, se extingue lentamente a memória dos verdadeiros heróis de Portugal. Conveniências de regime ditaram a imposição dogmática de uma historiografia oficial com a consequente censura de quaisquer leituras alternativas dessa galeria marcial de horrores. Recorrentemente a República Portuguesa legitimou pela força das armas as razões do regime. Foi assim com a legitimação da I República nas trincheiras da I Guerra Mundial e sob o pretexto de salvar o Portugal ultramarino das tentações colonialistas da Alemanha e para, simultaneamente, evitar que a Inglaterra exigisse o ultramar como compensação de guerra acaso Portugal fosse simpatizante da causa germânica. Com efeito, a diplomacia Portuguesa sabia que antes da Grande Guerra, mais concretamente em 1898 e em 1912, a Inglaterra e Alemanha negociaram secretamente a partilha dos territórios ultramarinos de Portugal. Assim, desde a génese da República a "questão colonial" perpassa todo o Século XX Português. Com o advento da República democrática a ruptura com o "regime colonial" faz-se à conta de uma criminosa descolonização. Antecede esta e o 25 de Abril uma "guerra colonial" que tem sido escassamente revisitada com imparcialidade. O recente trabalho de sapa, executado pelo Jornalista Joaquim Furtado, para exumar e resgatar essa história, merece a nossa atenção e expectativa. "A Guerra" (*) é um monumental trabalho Jornalístico que tem o mérito de fazer do telespectador o juiz de dois lados de um conflito que se desenrola em cada episódio. Logo no episódio de estreia, regista-se a coragem de mostrar sem peias que a "guerra colonial" começou à catanada pela UPA dizimando selvaticamente as populações Portuguesas do Norte de Angola. Espanta-nos a forma desassombrada como se desnuda o ódio racial que algumas etnias Africanas cultivavam em relação ao Branco e a tudo o que fosse branco. Reitera-se a convicção de que Portugal foi ludibriado no concerto das Nações e exemplo disso, logo no 1º Episódio da série, é a forma como o "nosso" amigo Americano desprezou o fado de Portugal e como os beneméritos capacetes azuis das Nações Unidas traficaram armas para as UPA! Esta série documental da RTP-1 é também um serviço público e honra a memória dos verdadeiros heróis, Europeus e Africanos, que cumpriram o destino do Séc. XX Português. Após o epílogo desta saga documental que nos promete o canal 1 da RTP fica em aberto o caminho para a história das feridas que ficaram por sarar. Hoje, a Portugal resta apenas a coragem de saber honrar as pensões devidas aos combatentes do Império e cumprir com as indemnizações devidas aos espoliados do Ultramar. Mas, essa é outra guerra que os Senadores desta República não querem combater. Também, aqui e agora, falta cumprir-se Portugal.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiario.com
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A série documental "A Guerra" é semanalmente emitida à terça-feira, pelas 21 horas, no canal 1 da RTP.

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