segunda-feira, novembro 29

O País flácido

Caminhando na rua em direcção a um compromisso marcado de véspera a cabeça dividida entre a responsabilidade do dia-a-dia e a vontade enorme de estar do outro lado do mundo e não ter responsabilidades o homem, possivelmente eu, olha para o estado do país, porque tenta fugir de pensar no estado do mundo, e o que é que faz? Desata em lágrimas? Dá uma violenta gargalhada? Suspira profundamente e segue o seu caminho? Quando estamos assim o que é que nos pode fazer continuar? Ou será que a insensibilidade já tomou de tal maneira conta dos nossos espíritos que já não nos chocamos com nada, já não nos revoltamos com nada. Faz-se zapping entre as desgraças do mundo e do país como se se saltasse de um reality show para outro.
Com uma arrogância, mais ou menos, insolente arrisco dizer que os maiores males do nosso tempo são a ignorância, o cinismo e a impotência. E são os grandes males porque todos partilhamos, em maior ou menor grau, destas características. A lufa-lufa constante entre o trabalho e o entretenimento deixam pouquíssimo tempo para mais. Já não nos interessa saber mais sobre as coisas, já não nos interessa olhar para as coisas com afecto e vontade de mudança. A impotência dominou por completo o nosso tempo, somos impotentes perante tudo. Portugal está doente, é preciso fazer alguma coisa, e isto não é uma cisão ideológica, não é uma questão entre direita e esquerda, é uma realidade profundamente perturbante que tem de ser encarada com a maior das seriedades. Quando há uns meses atrás se iniciou esta verdadeira idade média da democracia portuguesa já se previa que íamos viver tempos negros, agora chega, isto não pode continuar. Mas o Sr. Presidente da Republica acha que é preciso esperar mais um bocadinho, dar mais um tempo, auscultar. Se o país fosse uma meretriz, deitada de costas, em pleno coito e o Sr. Sampaio fosse o macho, decerto se ouviriam estas palavras - deixa lá acontece a todos. O cúmulo da impotência a que chegou o país é este senhor que não se vem nem sai de cima, flácido. É urgente acabar com este estado das coisas, é urgente fazer renascer a democracia neste país, é urgente acabar com a impotência. Convoque eleições Sr. Sampaio. Eleições já!!

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