domingo, novembro 18

Mais programa, menos programa...

Lícinio Cunha, no seu livro intitulado Introdução ao Turismo, editado pela Verbo em 2001, escrevia: "A viagem responde à necessidade individual de evasão, isto é, constitui uma forma de romper com a rotina da vida quotidiana, com os constrangimentos da vida urbana e com as condições de realização do trabalho em ambientes fechados. A cada vez maior concentração populacional em grandes centros urbanos, afastados do ambiente natural, poluídos e geradores de tensões psicológicas e físicas, conduz à necessidade de evasão que origina as deslocações temporárias. Deste modo, o turismo é, para muitas pessoas, um acto de libertação dos constrangimentos da vida moderna.”


Apesar de considerar que outros argumentos poderiam justificar a viagem, como que em sentido inverso (se quisermos), importa perguntar em que medida estão os Açores preparados para a responder à dita necessidade de libertação de quem, naquelas condições, nos procura!

Vem isto a propósito do primeiro ponto do capítulo IV da Proposta de Programa do XI Governo dos Açores - uma autêntica Suite a 4 mãos para o nosso Turismo -, que, curiosamente, me fez compreender a profundidade da preocupação de um colega quando, instado por mim a circunscrever a posição da pasta do Turismo numa qualquer orgânica governativa, me dizia que o relevante não era a importância que os governantes dariam à pasta, mas sim, a importância que ela teria.

Pese embora o documento produzido dever ser alvo de melhoramentos significativos, até porque as dinâmicas conjunturais assim o irão determinar, importa afirmar que o mesmo denota, na generalidade, a compreendida necessidade de se afinar a rota e aponta alguns novos caminhos que, para além da perceptível eficiência (para bem de todos nós), oxalá possam trazer também a imprescindível eficácia.

Numa perspectiva ambivalente, gostaria de deixar três notas que me parecem importantes, tanto para governantes como para governados:

1. Não se pode falar de cadeia de valor sem que a mesma esteja associada a uma proposta de valor concreta e mensurável, aliás, no nosso caso, este tema tem sido um verdadeiro problema. Sem a definição concreta da proposta de valor que o Turismo nos Açores tem para oferecer a todos os interessados na sua afirmação (mercados emissores e mercado interno) e sem a correcta comunicação a todos eles (directos e indirectos), não se pode definir e valorizar com rigor a respectiva cadeia. Tudo isto, bem montado, assentará – forçosamente - nos compromissos que todos terão que assumir, para garantir que tudo funciona afinado como um relógio suíço (e já sabemos o que acontece no que toca a compromissos, quando a substância que os procura suportar não é facilmente compreensível);

2. A enviesada discussão sobre os hotéis açorianos assente na pleonástica alusão a uma dita indiferenciação devia dar lugar a uma discussão séria e centrada nas questões da segmentação e da qualidade, vertentes importantíssimas na gestão das expectativas de todos aqueles que viajam em busca de uma experiência memorável. Não obstante esta necessária tomada de consciência, a questão da indiferenciação deverá, sem dúvida, ser considerada, sobretudo, na medida em que os hoteleiros deveriam preocupar-se em procurar contrariar o processo de “comodatização” do seu produto, num jogo que é habilmente conduzido pelos operadores na tentativa de procurarem esmagar os preços, inviabilizando - a médio e longo prazo - a capacidade do hotel gerar os meios para se reinventar, inviabilizando também a sustentabilidade do próprio negócio para todos os agentes do sector.

3. Um eixo de actuação que a proposta programática para o Turismo nos Açores não torna evidente também nesta legislatura é o necessário envolvimento da população (e do sector primário, já agora). Talvez pelo facto da nossa economia não ser, ainda, uma "Tourism-Driven Economy", como fez crer quem procurou convencer os que tiveram que fazer os investimentos. E, talvez também, neste facto resida o grande problema do nosso Turismo.

12 comentários:

  1. Anónimo9:12 p.m.

    A palavra "programa" é de sentido dúbio. Sobretudo quando envolve hoteis, pensões e albergues.

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  2. Anónimo12:52 p.m.

    pleonástica alusão....

    ena!!



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  3. Anónimo2:14 p.m.

    Escrever bem é uma pleonástica ilusão!

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  4. Anónimo2:29 p.m.

    Carlos,

    O sector do turismo não interessa aos Açorianos em geral e aos Micaelenses em particular.

    Porquê?

    1-Porque inflaciona brutalmente o custo de vida para todos nós,incluindo os custos associados à compra de terrenos para fazer casa.

    2-Porque os lucros não são justamente disseminados pela população (com a notável e mui salutar excepção do turismo rural).

    3-Porque os grandes mercados emissores NÃO são e JAMAIS serão controlados por nós.(exacerbando a nossa dependência de mercados externos)

    4-Porque eu não gostaria de ver a minha linda terra ser transformada numa Madeira...podemos fazer muito melhor do que "SERVIR" os estrangeiros que nos visitam.

    5-Porque fomenta um modelo de desenvolvimento de baixos salários (ver o que se paga a um empregado de mesa ou de quarto - Português, Espanhol ou Grego - em Monte Carlo ou Biarritz!!! uma perfeita merda. Os indígenas são transformados em mão de obra barata ao SERVIÇO dos senhores turistas)

    Poderia continuar...

    TURISMO NÃO!!!!

    O Grupo Bensaúde já percebeu que o segmento de mercado que mais interessa não deseja ficar em hotéis citadinos que se assemelham a tudo o que existe por esta Europa fora.

    DIVERSIFIQUEM e desenvolvam um modelo de desenvolvimento turístico que beneficie os Açorianos, sejam eles simples cidadãos ou (ex) hoteliers!!

    Abraço

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  5. Anónimo2:41 p.m.

    Qual é a TOURISM DRIVEN ECONOMY que proporciona boa qualidade de vida aos cidadãos???????

    1 caso apenas.

    Não me fales de Londres ou de Paris.

    Londres é o primeiro ou segundo mais importante centro financeiro do mundo.


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  6. Caro(s) Anónimo(s)
    Podia ainda acrescentar que pleonástica é, sobretudo, a miopia de algumas pessoas, incrementada pela teimosia, perante a necessidade de uma discussão alargada sobre este tema, com vista a escolher o modelo de desenvolvimento turístico que melhor sirva todos os sectores da economia e, simultaneamente, todos os Açorianos e, até mesmo, todos os micaelenses. Não há nada que nos obrigue a reproduzir os argumentos mitológicos só para justificar o estado de negação em que se encontram algumas pessoas - umas mais e outras menos anónimas - sobre este assunto.
    Relembro que a especulação imobiliária, aqui também, cresceu como um balão cheio de hélio e rebentou, sem que o turismo tivesse tido, sequer, a oportunidade de influir.
    No que toca à última pergunta, todas as "Tourism-Driven Economies" são aquelas nas quais este sector representa o principal argumento na sobrevivência da espécie, aos níveis ambiental, cultural, social e económico. Ora, nem Londres nem Paris apresentam uma moldura económica deste tipo.
    Para terminar, gostaria de relembrar que o Turismo representa uma importante forma de exportação, funcionando como uma alavanca interessante para mercados pequenos como o nosso, desde que sejamos, TODOS, capazes de atrair os turistas (CONSUMIDORES) com a nossa cultura, a nossa natureza e a nossa simpática hospitalidade.
    Com os melhores cumprimentos, à espera do contraditório.
    Carlos

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  7. Anónimo2:56 p.m.

    Tenho por regra não discutir com pessoas que usam palavras como pleonástico, mitológico...mas abro uma excepção no seu caso!!

    As regras de debate oxonianas (não é um termo rebuscado) ditam o seguinte: o Sr Carlos teria que responder à pergunta que lhe foi colocada: qual é a tourism driven economy que proporciona um boa qualidade de vida aqueles que nela labutam???

    Sardenha?? Suíça?? (com os portugueses a fazer aquilo que os Suíços não querem fazer)

    Cite um exemplo, s.f.f. Um bastará para ilustrar o meu argumento.

    ---

    O boom imobiliário nos Açores teve outras causas, é vero. Todavia, o facto do nosso boom ter tido pouco que ver com o turismo não demonstra que o turismo NÃO inflaciona brutalmente o custo dos terrenos. (quer que inclua aqui inúmeros estudos que demonstram conclusivamente a relação crescimento no sector turístico e inflação/especulação imobiliária????? Sinceramente, este é um dado inquestionável. Basta ver o que se passa na Madeira. Os Madeirenses são estrangeiros na sua própria terra!!!

    Londres recebe mais de 15 milhões de turistas por ano. A seguir a indústria financeira, este sector é o que mais receitas gera.

    Todas as tourism driven economies são economias terceiro mundistas, com mui raras excepções.

    O que é que isto lhe diz??? É isto que V Exa deseja para a sua terra??? Que sejamos todos empregadinhos dos Srs turistas??? Bem servir será o nosso futuro???? Nada mais do que isto???

    "Relembro que a especulação imobiliária, aqui também, cresceu como um balão cheio de hélio e rebentou, sem que o turismo tivesse tido, sequer, a oportunidade de influir." (Meu caro, você sabe muito bem que isto NÃO é VERDADE. Não distorça a verdade. Boa parte da especulação imobiliária micaelense teve muito que ver com o sector turístico.

    O modelo de desenvolvimento que melhor serve os interesses dos Açorianos é um modelo que coloque NAS NOSSAS mãos o controle sobre o valor criado. Isto é, temos que PRODUZIR e EXPORTAR PRODUCTOS de elevada qualidade. Nós conseguimos controlar o que produzimos muito melhor do que os turistas Londrinos ou Berlinenses.

    A presente crise do sector ainda não lhe ensinou nada??? O GRA subsidiou e ainda subsidia a vinda de caramelos de toda a Europa mas não dá um tusto para subsidiar a vinda dos filhos e filhas desta terra.

    Acha isto justo ou sequer sensato? A minha irmã visitou recentemente a sua terra (Açores) e gastou, certamente, mais em chicharros e cozidos do que 10 suecos ou parisienses. (além de te pago a módica soma de €880 para visitar a sua terra!!!!!????????)


    Olhe, meu caro, a minha pachorra para aturar gente burra já se esgotou há muito. Nós tratamos os NOSSOS como estrangeiros e tratamos os estrangeiros como Açorianos.

    É UMA VERGONHA,

    Vão berdamerda.



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  8. Anónimo2:58 p.m.


    errata e correcção:

    É mais fácil controlar o que produzimos do que tentar atrair ou controlar os fluxos turísticos Londrinos ou Berlinenses.

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  9. Anónimo3:01 p.m.

    E para que não me acusem de bla bla ble aqui fica o meu nome (já sabias que era eu mas...)

    Ezequiel

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  10. Ena Ezequiel,
    À borda de tanta donkey shit, e incrédulo com o fear dos sightseeing xénos, não dava por ti.

    Julgo que sabes: eu sirvo todos os dias o Srs. turistas. E sabes o que acontece? Reinvento-me todos os dias e alegro-me com isso, afastando-me assim das depressões crónicas de ilhéus confusos.
    Abraço,
    C

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  11. Anónimo5:02 p.m.

    Carlos


    Tenho a certeza que são os senhores hoteliers que andam deprimidos.

    Uma depressão turística que começou ANTES da presente crise.

    O facto da crise no turismo ter começado anos antes da actual crise mundial deveria ter servido como anti-depressivo para muitos ilhéus e outros que investiram no sector...

    Carlos

    Não respondeste a nenhuma das questões colocadas.

    Repito: qual é a tourism driven economy que proporciona bem estar AOS que nela labutam????

    A Grécia não é uma tourism driven economy??

    Não uses o pretexto das depressões crónicas dos insulares para deflectir as perguntas que te foram colocadas.

    Sei que trabalhas no sector. So what? (eu trabalhei no sector durante dois verões, com 18 e 19 anos anos, para a Autoatlantis e Agencia Açoreana de Viagens)

    Uma coisa nada tem que ver com a outra.

    Foi uma crítica honesta. Não foi uma crítica à tua persona.

    Cumprimentos
    ezequiel











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  12. Anónimo5:12 p.m.

    Permite-me este desabafo.

    Desejo o melhor para a nossa terra. Dentro de 20 anos preferiria viver numa terra de pequenos e médios empresários (produtores) do que numa terra de assalariados precários que vivem sob a eterna ameaça de uma crise que surge a milhares kms de distância.

    Repito: é mais fácil ensinar um lavrador moderno a fazer bons iogurtes, queijos etc e a vende-los do que controlar ou sequer antecipar as vicissitudes dos mercados emissores de Senhores turistas. Não podemos depender essencialmente de serviços. Temos que produzir e exportar bens de elevada qualidade. (peixe e lacticínios)

    O que eu escrevi aqui não é bullocks. Muito do que aqui escrevi, ouvi numa conferência sobre turismo que teve lugar em PDL. Ainda tenho o dvd da mesma.

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